Rev. Vivaldo Melo
A maior alegria de um cristão verdadeiro neste domingo não deveria ser ganhar o chamado ovo de Páscoa. A prática faz parte de uma tradição incorporada por uma vertente do cristianismo histórico. Particularmente tenho minhas reservas, mas respeito os discordantes. Aliás, até degusto, com prazer, esse produto tão cobiçado, especialmente pelas crianças.
Mas, a alegria maior da Páscoa deve ser a mesma vivenciada por duas mulheres - duas Marias - segundo o relato bíblico do evangelho de Mateus (Mt. 28, 1 a 10). O versículo 8 acentua que elas foram tomadas de "grande alegria", ao contemplarem o túmulo de Jesus Cristo vazio. Essa alegria tinha uma tríplice dimensão, quando pensamos no contexto histórico do evento:
Primeiramente, as angústias e tristezas do pós morte (de Jesus Cristo) terminaram. Certamente o mundo emocional daquelas mulheres e de todos os seguidores de Jesus estava abalado. Os textos bíblicos retratam-nos como tristes, angustiados e até decepcionados. O diálogo de dois discípulos, a caminho de Emaús reflete esse estado emocional. A Boa nova "Jesus ressuscitou" reverteu-o de imediato. Os discípulos, antes recolhidos e em estado contemplativo, não hesitaram, depois das primeiras aparições, em expor suas próprias vidas, pregando com-paixão. Hoje, muitos cristãos precisam voltar à cena do túmulo vazio, afinal não são poucos os que têm a vida marcada pela tristeza, desilusão e até decepção com Deus, certamente por não conhecerem com mais profundidade seus desígnios. Nesta busca poderão ter a fé rebustecida, afinal, se Jesus ressuscitou dentre os mortos não terá Ele poder para reverter os estados mentais negativos que muitas vezes tornam a nossa vida muito ruim? Precisamos nos lembrar das últimas palavras de Jesus, antes de deixar a terra: "Toda autoridade me foi dada, no céu e na terra". A palavra "autoridade", neste texto bíblico, tem o sentido de "poder". Ele tem poder para...
Mas, o túmulo vazio tinha para aquelas duas mulheres um segundo significado importante. A fé se confirmava. Ou seja, era a confirmação de todas as reivindicações que Jesus fizera. Quando ressuscita Jesus confirma todos os ensinos que ministrou, todos os milagres que fez e todas as esperanças que inspirou. Por isto a doutrina da ressurreição ocupa lugar central na fé de todos os cristãos. O apóstolo Paulo afirma que sem esse fato a fé é "vã". A propósito dos seus críticos importante lembrar a experiência de Gilbert West, brilhante jurista e por muito tempo ateu confesso. Objetivando atacar o cristianismo ele pesquisou tudo o que pode sobre a ressurreição de Jesus Cristo. Depois de exaustiva pesquisa em documentos históricos ficou tão espantado com o testemunho abundante de verdades, que se converteu ao cristianismo e escreveu o valioso tratado "Observações sobre a ressurreição de Cristo". E por que não lembrar alguns eminentes historiadores? Tácito e Josefo, um romano e outro judeu, contemporâneos das duas Marias, afirmam a veracidade do fato em seus escritos. Tiveram com isto a nobreza da honestidade, pois não eram cristãos.
Finalmente o evento daquele domingo, na vida de duas Marias, produziu a convicção de vitória. Houve uma vitória física, pois o homem que na sexta feira fora sepultado com um corpo extremamente maltratado, apareceria diante delas com pleno vigor físico, com todos os poderes e funções restaurados. Para os cristãos o significado alentador é que Jesus venceu todas as forças que causam a morte. Mas, houve também uma vitória política, pois o selo do poder do império romano - a Águia - que estava presente naquele túmulo, foi quebrado. Os soldados ficaram aterrorizados, pela constatação de que um poder maior que o de César havia operado naquele local. Isto também é encorajador, pois nos faz lembrar que o poder de Cristo supera o poder de todos os governantes terrenos, por mais fortes que eles sejam. O domínio dos poderes terrenos é temporal. O de Cristo, não! Também houve uma vitória moral na ressurreição de Jesus. As forças do mal tinham prevalecido por algum tempo. O sol da justiça parecia ter deixado de brilhar. Os demônios das trevas certamente regozijaram-se, afinal o Messias fora vencido. Agora, porém, ao ressuscitar, Jesus demolia todas as fortalezas dentro das próprias muralhas da morte. Essas realidades certamente fomentaram a "grande alegria" descrita nos evangelhos como o sentimento que dominou a alma das duas primeiras testemunhas da ressurreição de Jesus. E devem ser a razão da maior alegria dos cristãos no chamado domingo de Páscoa. Quanto a alegria de ganhar um ovo de páscoa...
*Pastor da Igreja Presbiteriana de Aquidauana
Email: pvhvivaldo@hotmail.com
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