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Giovani José da Silva

HISTÓRIAS DE ADMIRAR: A EDUCAÇÃO BÁSICA – QUEM SE PREOCUPA COM ELA?

      As manifestações de rua do último dia 15 de maio mostraram a força de estudantes e professores universitários, de todos os recantos do país, na luta (justa) contra os desmandos e o desmonte propostos pelo atual governo federal em relação ao Ensino Superior. Na condição e na qualidade de professor universitário senti-me contemplado com o que vi e ouvi das gentes que foram às ruas. Não, eu não estive lá, por diversas razões: além de estar fora de Macapá, onde resido e trabalho, me encontro em recuperação de uma pequena cirurgia realizada na semana passada e não me sentia completamente restabelecido. De qualquer forma, acompanhei com atenção toda a movimentação daqueles que preencheram as ruas com sonhos e utopias, por meio de palavras de ordem, com muito bom humor e ironia/ sarcasmo. Contudo... Ah, eu não tenho jeito mesmo, não é, caros leitores? Senti muito a ausência de luta – traduzida em reivindicações e questionamentos – em relação à péssima situação da Educação Básica e de problemas estruturais que enfrentamos há tempos no país: o analfabetismo de milhões de adultos; a grande evasão escolar, sobretudo no Ensino Médio; o piso salarial dos professores; o dinheiro que chega aos Estados e municípios para que a Educação seja bem cuidada e que é (mal) administrado, etc. Compreendo que a pesquisa deva ser priorizada, que não deve haver corte/ contingenciamento no setor educacional, que há gentes produzindo Ciência da melhor qualidade nas universidades e que merecem todo o reconhecimento, a valorização e o respeito. Por outro lado, não compreendo como a Universidade que forma professores de todas as áreas do conhecimento possa se manter calada/ alheia em relação ao que se passa nas escolas de Educação Básica, como se não fosse um problema do qual também fizesse parte. E o que temos para hoje? Uma legião de jovens e adultos que adentram o Ensino Superior e que leem, escrevem, falam mal. Muitos deles – infelizmente a maioria – não estão ali para buscar conhecimento, tão somente um diploma, uma certificação. Nesse sentido, pouco leem, não conhecem outras línguas que não seja o Português (sofrível, em muitos casos), aprendem por meio de “seminários” que pouco (ou nada) ensinam e não preparam para o trabalho pedagógico de excelência que deveria se esperar deles. Fracassamos terrivelmente na tarefa de educar! Se a Escola no Brasil não era para todos em pleno início do século XX – excluindo negros/ pardos/ mulheres, pobres, por exemplo –, hoje pode-se dizer que nos acostumamos à existência de escolas para gentes abastadas e escolas para gentes empobrecidas. Em geral, nessas últimas, não há um forte controle social por parte da comunidade, especialmente de pais e mães, muitos deles sem estudo ou possuidores de diplomas, porém sem conhecimentos básicos plenamente consolidados. Eis a grande tragédia da Educação Básica sobre a qual não foram vistos cartazes e tampouco ouvidas palavras de ordem nas manifestações de 15 de maio: o que fazer com os milhões que estão fora das escolas de Ensino Fundamental e de Ensino Médio e com os milhões que, ao concluírem a Educação Básica, não sabem o básico? Ouço vozes ao longe, gritando em minha direção, dizendo que estou, mais uma vez, responsabilizando professores que ganham baixos salários e que trabalham em escolas sucateadas, pelo caos na Educação. Além disso, a precarização do trabalho docente, bem como a sua desvalorização, comprometeria quaisquer resultados a serem alcançados. Compreendo tudo isso, mas a pergunta que não quer calar é: afinal, quem se preocupa com a Educação Básica no Brasil? Sucessivos governos se demonstraram pouco ou nada preocupados com isso. Há muitos professores/ pesquisadores universitários e acadêmicos em formação nas licenciaturas que investigam a precária situação das instituições escolares, especialmente as públicas – municipais e estaduais. Os diagnósticos se avolumam dando conta de que não é nada fácil educar satisfatoriamente crianças, jovens e adultos em salas superlotadas, sem as mínimas condições físicas etc. Então, o que fazer? Os manifestantes que saíram às ruas há dois dias demonstraram um enorme potencial de reivindicação por melhores condições no Ensino Superior. Resta-nos saber quem lutará pela Educação Básica do Brasil, única via possível de superação de todas as nossas mazelas...

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