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Giovani José da Silva

HISTÓRIAS DE ADMIRAR: ANTES QUE TERMINE O DIA...

Antes que termine o dia quero agradecer, apenas agradecer, agradecer muito! A imensa gratidão é por ter conquistado hoje, uma sexta-feira de dezembro, a minha casa própria. O menino que foi expulso de casa junto com a família pelos avós paternos (como foi possível aquilo acontecer? Como?), que perdeu, além do pai, o teto e teve a infância estilhaçada; o adolescente expulso pela segunda vez (!), desta feita somente pela avó paterna (o avô já não estava mais vivo para consentir mais uma vez com a maldade...); o jovem recém-formado convidado a se retirar de sua própria casa pelo então cunhado, com o silêncio e a conivência de quem estava a sua volta. Todos os que vivem dentro de mim, agora estão apaziguados: sim, Giovani, temos um lar! Um lar onde não faltará um homem, como lhe disse certa vez, rispidamente, outro cunhado (ah, essas minhas irmãs e suas escolhas...). Um lar onde construirei meu porto seguro, um lugar para onde irei quando o mundo parecer tão opressor, tão esmagador de sonhos e utopias. Foram quase nove anos de muita labuta, muito trabalho, sem pedir nada a ninguém, sem precisar de herança e nem brigar com o mundo para ter o que me é de direito. Estou em paz! E antes que termine o dia preciso dizer obrigado a algumas pessoas, especialmente a duas delas, os homens de minha vida: João e Arnaldo. O primeiro, João José da Silva, meu pai biológico, com quem convivi tão pouco e de quem guardo as mais lindas lembranças dos primeiros anos de vida. Não sei se ele me aceitaria como sou, se gostaria de saber que o filho tornou-se professor, historiador, antropólogo, terapeuta holístico. Talvez uma ocupação mais “de macho” tivesse sua imediata aprovação. Talvez um casamento com alguns filhos fosse o seu desejo mais acalentado em relação a mim (afinal, sou um dos poucos homens a ter nas veias o sangue dos José da Silva!). Talvez... Nada disso me importa. Hoje, dia 15 de dezembro de 2017, eu o senti tão perto, tão dentro de mim, como se me dissesse a todo momento: você me honra, Giovani! O outro, Arnaldo Begossi, partiu esse ano para a aldeia da memória, a terra dos sonhos, deixando muitas, muitas saudades no rapaz magricela que o conheceu no primeiro ano universitário, “adotando-o” e “elegendo-o” como um segundo pai, um pai “postiço”. Como esquecer de toda a ajuda que me deu (financeira, emocional, espiritual) e de como vibrava por cada conquista minha, por menor que fosse? Ainda posso ouvir sua voz ecoando em minhas memórias: – Preto!  – Gordo! – Magrelo! Ele, sim, melhor do que qualquer outra pessoa, me conheceu profundamente, sabedor de minhas virtudes e de meus defeitos, porém jamais me julgou ou me rejeitou... Antes que termine o dia preciso elevar meu coração em prece, agradecer ao Vô “Somário”, o benzedor que adotamos como avô, e aos meus pais, o de sangue e o de alma, dizendo a eles que não, não faltou homem lá em casa, que podem ter tirado nossa moradia, nosso carro, mas não tiraram de mim a fé, a coragem e a esperança. A fé no Criador, Aquele que a tudo vê e que protege seus filhos das maneiras mais incríveis, mesmo que imperceptíveis! A coragem para lutar, sem tempo para preguiças ou desânimos, sem posar de vítima ou de coitado! A esperança em dias melhores, de que pessoas melhores entrarão em minha vida e que eu não permita mais ser explorado (financeiramente, emocionalmente, espiritualmente) por quem quer que seja. Que eu me proteja dos maus olhos, das bocas maledicentes, dos dedos em riste dos juízes sem toga, das palavras malditas, dos malfeitos e malfeitores. Antes que termine o dia quero dizer que sou um sobrevivente, que decidi não sucumbir e renasci das minhas próprias cinzas, como a Fênix. Feitas as pazes com o menino, o adolescente e o jovem Giovani, desejo que o homem adulto que me tornei, com “minha vida, meus mortos e meus caminhos tortos”, se cuide para que o velho Giovani (oxalá que eu chegue lá!) seja alguém que tenha deixado boas e férteis sementes por onde passou. Eu não tive filhos e nem pretendo tê-los, pois preciso cuidar de uma criança que lá atrás ficou sem casa para morar, sem pai para ensiná-lo a “ser homem” e que tinha nos livros e filmes os seus melhores amigos. Agora voltaremos para casa, juntos, reconciliados, de mãos dadas. Que venham novas e (mais) alegres aventuras!

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