Giovani José da Silva
Estive semana passada em Barreirinhas, nos Lençóis Maranhenses, a convite do IFMA (Instituto Federal do Maranhão)/ Campus Barreirinhas, a fim de participar do 4.º IFMA Consciência, um evento de celebração da Semana da Consciência Negra. Eu já havia visitado parte do Estado do Maranhão, porém não conhecia sua capital e, tampouco, os famosos Lençóis. Ao lado da amiga Marinelma Costa Meireles, docente da instituição, e de outros tantos professores e alunos, sobretudo do Ensino Médio, vivi dias incríveis naquelas terras arenosas. Não, não foi possível visitar as mundialmente famosas dunas de areia “semovente” desta vez. Contudo, o que encontrei por lá me fez acreditar, mais e mais, de que o nosso país tem jeito e, além disso, de que é necessário um compromisso social de todos com a Educação de todos, de nenhum a menos. Nos rostos daqueles jovens negros e negras, pardos e pardas, enxerguei o desejo de mudanças e a esperança de dias melhores. Os olhos de curiosidade que me miravam incansavelmente, o encantamento pelas palavras a que me propus junto a eles, a atmosfera de busca pelo conhecimento estiveram envolvidos pela quentura dos dias finais de novembro. Gentes que vivem em povoados, quilombos, vilas de beira de estrada, muitos descendentes de migrantes. Gentes que, muitas vezes, ainda não conhecem as próprias histórias, nem as de seus antepassados... E como poderiam? Estou cada vez mais convencido de que devemos combater firmemente o eurocentrismo dominante em nossas escolas e em todos os recantos extraescolares. Ainda nos vemos como “inferiores”, “feios”, “indignos” de uma vida próspera em todos os sentidos. Ano após ano, somos educados a acreditar que em algum lugar, bem longe de onde moramos, que pode ser a França ou o Estado de São Paulo ou do Rio de Janeiro, há pessoas melhores que nós, mais interessantes, mais inteligentes... Alguns daqueles meninos e meninas maranhenses que encontrei também pareciam acreditar nessas baboseiras. Isso, até que um doutor, com dois pós-doutorados na bagagem e um largo sorriso metálico no rosto, começou a lhes falar o quanto é importante saber quem somos, a fim de compreendermos o que fomos e o que desejamos ser. Eu mesmo abri mão de estudar em grandes universidades paulistas e me embrenhei em Mato Grosso (do Sul, eu sei), a fim de me buscar, como um caçador de mim. Ter ministrado a conferência de abertura do 4.º IFMA Consciência e podido falar sobre meu trabalho na telenovela Alma Gêmea, em minicurso ministrado a alunos e professores, foi, sem dúvida, uma honra. Senti-me honrado também por conhecer tantas gentes cujas histórias estão envoltas em tradições indígenas e afrodescendentes, lembrando-lhes, a todo momento, da importância de se dar ouvidos e atenção aos mais velhos, nossos guardiões da memória. As gentes dos Lençóis me comoveram com sua simplicidade, com sua vivacidade e com o respeito com que trataram a mim e às “histórias de admirar” que lhes contei. Tracei minhas trajetórias entre populações indígenas do Pantanal e da Amazônia, contando-lhes como o garoto órfão que perdera o pai na tenra infância decidiu-se por uma carreira que lhe trouxe muito mais do que títulos acadêmicos e sucesso profissional. O convívio com os Kadiwéu e com outras populações indígenas me ensinou a observar a vida com simplicidade e vivê-la intensamente, sem querer que ela seja boa apenas para mim e para os meus. Falei, sobretudo, da força das coletividades, de como deveríamos combater ideias eurocêntricas sempre a partir dos coletivos, que nossas lutas e batalhas precisam ser de todos e não apenas de alguns “iluminados” preferencialmente formados em universidades dos grandes centros, no Brasil e no exterior. Não, caros leitores, não deveríamos jamais dizer “que bom que um de nós chegou lá: é sinal de que qualquer um pode também”. Sabemos que em um mundo desigual como esse em que vivemos, a ideia de oportunidade para todos é, sempre, uma falácia. Antes, nosso lema deveria ser “se um de nós, pelo menos um de nós, ficar para trás, todos fracassamos!”. Assim, desejo êxitos a Marinelma, Valério, Claemerson, Cesarina, Adelina, Edileuda, Victor, Douglas, Anna Kelly, Manoel, Edicarlos, Luilton, Kelly, Ana Paula, José Valdir, Evelyn, Maria Zuleide, Laís, Marcelo, Caio e a tantos, tantos outros mais, que me receberam tão bem em terras maranhenses! Espero voltar em breve!
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