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Giovani José da Silva

HISTÓRIAS DE (NÃO) ADMIRAR: O HORROR

      Vivemos em uma sociedade doente, é fato! A questão é que não nos damos conta disso e apenas quando acontecem tragédias como a do dia de hoje, em uma escola pública de Suzano, Estado de São Paulo, percebemos que há algo de muito errado em nossa maneira de ser/ viver em coletividade. As escolas deveriam ser espaços de vida e não de morte. Acontece que em muitos desses espaços, há muito tempo, não se fala de morte, não se fala de sexualidades, não se fala de muita coisa que importa realmente à vida em sociedade: cooperação, solidariedade, empatia, respeito, etc. As escolas públicas são para quem mesmo? Nelas, em geral, não estudam os filhos de políticos, nem de pessoas endinheiradas, sequer os próprios filhos/ netos de professores de escola pública! Desconfio que nelas estudem muitos filhos e netos de pessoas muito pobres, sem escolarização básica completa, que enxergam na diplomação/ certificação (e não na aprendizagem, de fato) chances de um futuro melhor. Quanto ao presente, bem, no presente devemos nos contentar com o cotidiano cheio de problemas das escolas públicas de Norte a Sul/ de Leste a Oeste do Brasil: faltam materiais básicos, faltam profissionais motivados (precarizados em salários, em condições de trabalho, em formação), falta (quase) tudo! Quem acompanha o dia a dia das salas de aula Brasil afora – não quem teoriza sobre o assunto, em teses e dissertações inócuas/ inúteis, ou quem nunca frequentou uma dessas escolas – conhece a rotina massacrante de salas superlotadas, calorentas, muitas vezes feias e sujas... Ali estudam (ou tentam estudar) crianças, adolescentes e jovens – em sua maioria pretos/ pardos e pobres – que não se reconhecem nos materiais didáticos, nas falas de professores, nos cartazes mal grudados nas paredes, nos conteúdos transmitidos em aulas aborrecidas. Ali também trabalham coordenadores/ diretores que muitas vezes não fazem outra coisa a não ser manter a burocracia “em ordem”. Fracassamos! Não conseguimos dar conta de dialogar com o funk, o rap e outros ritmos, com o uso de celulares e outros aparelhos, com a sensualização/ erotização precoce, com os games que banalizam a violência, com as culturas das periferias/ arrabaldes e com a obsessão latente pela fama e pelo sucesso. Sim, “todos” querem ser famosos, ter seus nomes publicados em jornais, aparecer na TV, nem que para isso tenham que fazer coisas hediondas... Agora mesmo, ouço pela televisão alguém dizer “violências como essa não fazem parte da nossa cultura”. Será mesmo? Lamento em informar, senhor Ministro, senhores políticos, senhoras e senhores: o ódio já entrou em nossa sociedade desde o período colonial, pelo menos. Como coletividade o cultivamos há tempos, não apenas elegendo aqueles que em um momento como esse aparecem publicamente para dizer o quão estarrecidos e tristes estão, mas que nada (ou quase nada) fazem para que situações de horror como essa parem de ocorrer. Enquanto não nos dermos conta de que elegemos (sim, nossa sociedade) alguém que representa o horror presente em muitas casas e em muitas escolas de nosso imenso país, nos restará, apenas, reclamar, criar memes, ironizar e... nada fazer! Precisaremos de todos para banir do mundo a opressão, como diz a música. Além disso, precisaremos olhar bem no fundo de nossos espelhos de Narciso (eu faço a minha parte!) para enxergarmos mais do que nossos próprios umbigos (eu dou o meu melhor!). Você que sonha em viver em outro país (mais “civilizado”, mais “evoluído”), que vive dizendo “eu avisei”, que ironiza a tudo e a todos como forma de “resistência”, é bom saber que enquanto você se senta confortavelmente diante do computador ou da televisão para se informar/ conformar sobre as mazelas do Brasil, há um “exército” de pessoas reunindo a outras e distorcendo as palavras de Jesus, influenciando-as muito mais do que quaisquer professores em escolas. Como diria o rapper brasileiro Mano Brown, há poucos meses, para uma plateia embasbacada em si mesma: “Tem uma multidão que não está aqui que precisa ser conquistada ou a gente vai cair no precipício?”. O horror, respeitável público, está instalado entre nós há muito tempo, empurrando-nos com força para o tal precipício...

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