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Rev. Vivaldo Melo

Igreja - Que Igreja?

O documento do Vaticano, publicado nesta semana, afirmando que a Igreja Católica é, sempre foi e será a única Igreja de Cristo, é oportuna para a reflexão sobre questões antigas da História da Igreja um pouco esquecidas por conta do diálogo ecumênico, de um lado, e pela despreocupação, nos últimos anos, dos segmentos mais radicais em relação aos temas teológicos, em função do avanço de um cristianismo que prioriza as experiências e não se preocupa com algumas reflexões pertinentes do ponto de vista da fé. Um exemplo desta última tendência está em declaração recente do bispo Edir Macedo, segundo a qual "o crente não precisa de teologia". Pena, porque a ausência de diálogo gera extremismos descabidos em determinadas situações históricas.

Qualquer crítico coerente, sem pretensões denominacionalistas, há de concluir, olhando para a história, que a Igreja de Cristo, em vários momentos, desviou-se de seus propósitos. Quando ainda una, antes da cisão de 31 de outubro de 1517, incorporou à sua práxis costumes questionáveis, principalmente a partir da gestão de Constantino, que praticamente obrigou os súditos do império romano a aderirem ao cristianismo. Contudo, nenhuma adesão completa se dá por decreto. E o resultado mais conhecido desta imposição foi a inclusão de diversas práticas pagãs ao cristianismo. Muitos dogmas contrários ao espírito da Bíblia surgiram a partir do ano 300 dC. Em respeito aos católicos e pelo desejo de não produzir polemicas maiores, prefiro não mencioná-las. Basta, contudo, uma simples pesquisa, mesmo que periférica, para que alguns sejam facilmente detectados.

Em todos esses desvios doutrinários vozes inconformadas se levantaram. Antes mesmo de Martinho Lutero protestar contra os mesmos, outros cumpriram o papel de exercer o profetismo que se requer de qualquer cristão, quando "interpretações desviantes" vierem à tona. É no mínimo irônico que o documento polemico da Igreja Católica, publicado esta semana, use a mesma expressão para referendar o seu posicionamento exclusivista. Não haveriam "interpretações desviantes" na forma de cristianismo abraçada pelos católicos romanos? A resposta deve ser dada por cada católico, de forma crítica e sem paixões. Já os protestantes, precisam admitir que, infelizmente, "interpretações desviantes" também são encontradas em seu seio, muitas das quais propagadas "em nome de Jesus". Exemplos podem facilmente ser encontrados. Basta uma leitura dos pressupostos da chamada "teologia da prosperidade", que serve, entre outras coisas, para autenticar determinadas posturas e ações inconcebíveis de seus líderes, alguns dos quais reeditam as práticas monárquicas em seus "ministérios". Vivem como reis, subjugando milhões de súditos, sem nenhum constrangimento.

A grande verdade é que a Igreja de Cristo não vai ser encontrada, hoje, em nenhum viés denominacional. Em todos eles podemos distinguir aspectos que afrontam o modelo de fé e prática propugnado por Jesus Cristo. Estamos muito longe, em muitos aspectos, daquilo que Jesus Cristo ensinou. A verdadeira de Cristo transcende a ritos, aparatos e rótulos denominacionais. Ela é formada por todos que o reconhecem, verdadeiramente, como único Salvador, crêem nEle e têm as vidas marcadas pelas práticas por Ele recomendadas.

O Autor é pastor da Igreja Presbiteriana de Aquidauana
Pós graduado em Ciências da Religião
Visite o site:
www.ipbaq.com

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