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Paulo Corrêa de Oliveira

MISTÉRIOS DA PONTE VELHA

            Por falta de registro escrito, muitos acontecimentos pitorescos dos tempos passados se perdem. Muitas vezes, são relatos saborosos que só o colóquio familiar consegue testemunhar. Porém, se nenhum dos ouvintes dá continuidade à história, a transmissão oral se encerra naquela mesma prosa e nunca mais será lembrada.

            Nem sempre, também, os fatos narrados são reproduzidos fielmente. Os “causos” são aumentados, diminuídos ou totalmente transformados. E, pior ainda, quando são para sempre abafados. Aí, perdemos, todos nós, o sabor.

            Vamos falar da “Ponte Velha” de Aquidauana, ou oficialmente: “Ponte Roldão de Oliveira”, nome do prefeito que a concebeu, no ano de 1918. A construção foi iniciada em 1919 (cem anos atrás) e inaugurada em 1926, no governo do prefeito José Alves Ribeiro Filho

Pois bem, a história desta ponte se mostra rodeada de mistérios.

Recebi uma carta pelo Correio, postada em três de janeiro de 2019, de uma sobrinha de tio Roldão, nosso tio comum, Célia de Oliveira Soares, onde ela comenta uma visita que fez ao tio, há muitos anos atrás, em São Paulo. Diz ela:

“Gostaria de lhe contar o seguinte: -(caso conheça a história, minhas desculpas). Quando meu irmão morava em Lorena, SP, ia constantemente a serviço a São Paulo e, porque todas as minhas férias e feriadões eram com ele, aproveitei a carona e fui a São Paulo várias vezes, sempre visitando os tios que moravam ali mesmo no Centro, na Avenida São João. E, nesses papos que se repetiam e que me deram chance de conhecê-lo e também à tia e aos dois filhos, ele me contou o seguinte: -era prefeito de Aquidauana, cidade que tem um lindo e largo rio, e sonhava com uma ponte que unisse a cidade, sonho que ficava mesmo nesse terreno, pois a cidade àquela época, não conseguia nunca o dinheiro disponível para despesa de tal monta. Aí, convidado para se encontrar com outros prefeitos em São Paulo (não sei de que área desse Brasil tão grande) não quis perder a chance de voltar com idéias que pudessem ajudar sua cidade, tem a surpresa extremamente grata de se encontrar com um velho colega de faculdade (Ouro Preto)  e que era prefeito de Florianópolis. Muitos abraços, assuntos de anos e anos, quando o colega lhe confidenciou estar metido na maior bananosa de seu governo. Comprou, com recursos tirados das pedras, na Bélgica, uma ponte metálica para unir sua ilha ao continente. A ponte, em pedaços, chegou menor do que a distância necessária e ele estava nesse sufoco. Adorou vendê-la para Aquidauana, a preço de ferro velho, ficou livre da sucata e o tio voltou feliz com seu sonho em vias de realização.”

Essas são lembranças remotas que, como tradição oral, estão sujeitas a alguns reparos. Porém, trazem pistas para acrescentar ou desvendar mistérios do passado.

A história oficial, através de documentação da Câmara Municipal de Aquidauana, relata:

“Em 20 de junho de 1918, Roldão de Oliveira foi autorizado a constituir empréstimo para a construção da ponte.”

“Resolução nº 100, de março de 1919 – Fica o Intendente Geral autorizado a entrar em negócio com o governo do Estado de São Paulo para aquisição de uma ponte metálica que o mesmo governo prontificou-se a ceder ao governo municipal desta cidade pela quantia de cem contos de réis dando-a assentada e assoalhada pronta para o trânsito público.”

História como essa, contraditória, centenária, são mistérios que brincam com nossa capacidade de reconstituir o passado real.  Mas, não perde o encanto das lembranças tão bem guardadas no baú das memórias.

A Ponte Roldão de Oliveira foi inaugurada em 29 de novembro de 1926. E se tornou o cartão postal mais característico da cidade de Aquidauana.

Roldão de Oliveira faleceu em São Paulo, em 20 de março de 1972, com 92 anos de idade.

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