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Raquel Anderson

"Num tempo da delicadeza!"

"Num tempo da delicadeza!"
Toda madrugada tem frescor
Na casinha, singela, havia amor, era sincero e real o bom dia!
A casinha continua viva a desafiar o tempo...o rio ainda passa ao lado e esturra nas enchentes, feito onça, vem com força e invade a gente.
Lamparina, rede, quintal  e a poça d'água que emperrava o velocípede do irmão:
"-Dona Xana, Xana, Xana, Santa Madalena Lena Lena  Lena, Cacararú!" Para desatolar o velocípede, ele cantava, coisas de criança que na lama brincava e alegre, inventava...
A rua era mais bela feita de pedregulhos..
Os passarinhos felizes, sem piche.
Quantos anos têm os passarinhos?
São eternos o tosquiar de suas asinhas e o repertório dos assovios que embalam a infância.
A travessia no quintal para a casa dos avós, ornamentada com frutas pregadas nas árvores  ou caídas no chão, dialogavam com varais de lençóis banhados em anil que tremulavam, como bandeiras da paz e cortinas esvoaçantes...
Ía-se buscar um punhado de doce e, no açucareiro, de alumínio, o açúcar necessário para passar o café...
"-Tem dóis "V" viu?! As asas do açucareiro foram feitas para lembrar que açúcar emprestado vai e volta!
A casinha continua de pé, como um livro grosso imponente, que seria o caso, para contar sua história... 
Tem varandinha na frente, janelinha de pau e o imenso quintal, que sempre será imenso dentro da gente!
A casinha, até hoje, flerta comigo, dentro dela foi cortado o meu umbigo e o umbigo da prima.
A casinha, poética, pede rima.
Envelhece devagar e abriga gente humilde, de tão bela, só gente simples mora nela.
Tomara que a casinha nunca acabe, ignorada pela sua singeleza, é teimosia, permanência e delicadeza...
Poesia no meu atravessar...há na gente um lugar mole e doce como caldo de cana, como a casinha do nascimento, em Aquidauana.

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