Cadeirante há 15 anos, Papagaio varre todos os dias seu quintal e a calçada

Quem mora na região Duque de Caxias, próximo ao presídio de Aquidauana, sabe que toda manhã Papagaio estará varrendo o quintal e a calçada da sua casa. Cadeirante há cerca de 15 anos devido a uma queda, Alandir não deixou seu costume de lado nem mesmo após o acidente.

“Toda vida ele morou com a minha mãe e sempre cuidou do quintal. Quando ele teve a queda quebrou o fêmur, a rótula do joelho e a clavícula. Ele até anda com a muleta, mas é com muita dificuldade, por isso prefere a cadeira. E pra não ficar parado, continuou limpando. Ele faz porque gosta”, conta a irmã que mora na casa ao lado, Ernestina Gomes

Com a mão esquerda um pouco paralisada, ele conta que, se possível, varre o espaço até duas vezes ao dia. “Ganhei uma cadeira boa tem um ano, então sento nela e venho puxando a vassoura. Gosto de fazer isso e todo mundo aqui me conhece. Quando alguém diferente me vê me dá parabéns e fala que tem tanta gente com saúde reclamando da vida e não fazendo nada enquanto eu tô aqui cuidando da minha casa”, diz.

Todos os dias Papagaio varre o quinta (ao fundo) e a rua da sua casa. Foto: Samara Oliveira

Como todos o conhecem, Ernestina fala que se o quintal tá sujo ou alguém conhecido passa e não vê o irmão a vizinhança já estranha. “Se ele varre um horário mais tarde ou não varreu de novo depois da ventania e o quintal fica sujo, já perguntam pra mim: Onde tá o papagaio?”.

Ela conta que a dedicação do irmão é tanta que tem horas que é preciso brigar com Alandir. “Tem o varredor de rua aqui, mas ele varre até o asfalto porque gosta do jeito que ele limpa. Tem dia que é meio dia ele tá varrendo. Falo pra ele parar porque o sol tá forte, tá muito quente e muitas vezes ele para reclamando. Quando tá ventando também. Digo a ele: ‘Maninho, não adianta varrer porque o vento vai trazer a sujeira’, mas não adianta. Toda vida ele foi assim, ele gosta e todo mundo aqui já conhece ele”.