Quase 40 milhões de eleitoras estão indecisas ou pretendem votar em branco ou nulo
Raiane Meireles está disposta a anular, da mesma forma que 13% do total de eleitoras / Antonio Scorza / Agência O Globo
A duas semanas do primeiro turno, o número de mulheres sem candidato a presidente é elevado: na pesquisa Datafolha da última quinta-feira, ao responder de forma espontânea à pergunta “em quem você vai votar?”, 51% delas afirmaram ainda não saber (38%) ou pretender votar nulo ou branco (13%), o que corresponde a 39,4 milhões de eleitoras. Na ponta do lápis, para cada homem sem candidato, há duas mulheres na mesma situação. A pedido do GLOBO, o Datafolha mapeou seu perfil socioeconômico. O resultado revela que 45,3% moram no Sudeste e 54% ganham até dois salários mínimos por mês.
Este grupo, que totaliza 27% de todo o eleitorado, pode definir quais candidatos irão para o segundo turno, o que vai exigir dos postulantes à Presidência esforço redobrado para conquistar sua confiança na reta final. Na avaliação de cientistas políticos, os dados detalhados da pesquisa refletem a frustração com os políticos e o pragmatismo do eleitorado feminino de baixa renda, que ainda não conseguiu identificar entre os candidatos uma resposta a seus anseios.
DECISÃO PERTO DO VOTO
Tradicionalmente, o eleitorado feminino costuma decidir seu voto mais perto do dia da votação, na comparação com os homens. A mesma pesquisa espontânea do Datafolha que apontou percentual de 51% das eleitoras indecisas ou que votarão branco ou nulo, revelou que, entre os homens, o índice era de 29% (20,2 milhões). Em junho, esse percentual era de 80% entre as eleitoras e 58% entre o público masculino.
Quanto menor a renda, é maior o número de mulheres que não indicaram um nome na pesquisa espontânea do Datafolha. Do total de mulheres indecisas ou que votarão branco ou nulo, 87% têm renda mensal de até cinco salários mínimos. São poucas as que ganham entre cinco e dez salários (4,6%) e menos ainda as que estão na maior faixa de renda, com ganho mensal superior a dez mínimos (1,6%).
Na radiografia por região, o Nordeste vem em segundo lugar (26,4%), acima da região Sul (14,2%), e das regiões menos populosas, Norte (7,6%) e Centro-Oeste (6,3%). Se observado o grau de urbanização das cidades onde as “sem voto” estão, a pesquisa indica que 60% estão no interior e 40% nas capitais e outros municípios de regiões metropolitanas. Um sinal, para o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da UFMG, de que o discurso dos candidatos não chega às cidades pequenas e médias, onde ainda impera a desinformação.
A auxiliar de loja Ana Carolina Pinheiro, de 24 anos e moradora do Rio, é uma das indecisas. Conta que não vê nos candidatos boas propostas, principalmente para a educação. Ela descarta anular o voto. Já sua namorada, Raiane Meireles, que está desempregada, decidiu que não vai votar em ninguém.
BOLSONARO DIVIDE OPINIÕES
A declaração provocou forte reação de candidatas à Presidência ou vice-presidência, como Marina Silva (Rede) e Kátia Abreu (PDT), e levou Bolsonaro a enquadrar o vice. O tema também foi explorado em redes sociais pelos que declaram abertamente votar contra o capitão. Ainda assim, a pesquisa Datafolha apontou a migração de parte dos votos de mulheres que se declaravam indecisas em junho para o candidato do PSL.
Há três meses, 6% das mulheres diziam que votariam em Bolsonaro, considerando a pesquisa espontânea. Semana passada, o candidato aparecia como o preferido de 16% das brasileiras, no topo da lista. Fernando Haddad (PT), que sequer aparecia na pesquisa espontânea em junho — a candidatura de Lula ainda não havia sido impugnada — ficou em segundo lugar na preferência feminina semana passada, com 9% das intenções de voto. Os demais candidatos não passaram de 6% na preferência do eleitorado feminino na edição mais recente da pesquisa.
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