Data, 20 de novembro, marca a memória a Zumbi dos Palmares
Furnas dos Baianos em Aquidauana / Divulgação
A questão do negro no Brasil, assim como dos indígenas, ainda está num processo de conquistas de espaços (direito é garantido por lei) e a Constituição Federal de 1988 diz em seu “Art. 3, inciso XLI, que Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
Furnas dos Baianos, em Aquidauana, foi certificada como oriunda de quilombo, em 2007, pela Fundação Cultural Palmares. Essas comunidades remanescentes se adaptaram a viver em regiões difíceis e enfrentando grande adversidade. Porém, mantendo suas tradições culturais, aprenderam a tirar seu sustento através dos recursos naturais disponíveis, ao mesmo tempo em que se tornaram diretamente responsáveis por sua preservação, interagindo com outros povos e comunidades tradicionais onde estavam se inserindo.
Essa comunidade negra, rural quilombola está fixada entre os distritos de Camisão e Piraputanga, a 30 quilômetros do município de Aquidauana, formada por pequenas propriedades rurais, onde vivem da agricultura e possuem uma produção de farinha de mandioca de uma qualidade que a torna muito conhecida além de ser uma das fontes de subsistência dos moradores.
O quilombo, que tem como presidente Dona Ivete, neste ano tem à frente das comemorações pelo dia da Consciência Negra, a professora Flávia da Silva Ferreira, de Aquidauana, que morou e passou boa parte de sua vida com seus familiares no quilombo, está organizando uma festa, que não será aberta ao público, porque terá como objetivo maior, ser um momento para que os membros da comunidade possam viver e conviver com suas tradições e ancestralidade num dia voltado para essa celebração.
“A história diz que os primeiros moradores fixaram residências no local em 1952. Alguns anos depois chegou um segundo grupo de pessoas, oriundas do estado da Bahia e escolheram o local para recomeçar, através de muito trabalho. Nas Furnas dos Baianos, os quilombolas vivem de forma simples. A comunidade é organizada de forma coletiva, com uma forte valorização da solidariedade e da cooperação entre os moradores. A agricultura é uma atividade importante para a subsistência dos quilombolas, que cultivam alimentos como mandioca, feijão, milho e produzem a farinha de mandioca. Além disso, a criação de animais também são fontes de sustento para a comunidade”, conta Flávia, que explica como será a comemoração pelo dia da consciência negra, nesse quilombo.
“A comemoração pelo Dia da Consciência Negra em Furnas dos Baianos será um momento de reflexão, celebração e valorização da cultura afro-brasileira. Estamos planejando uma série de atividades para marcar essa data tão importante. Entre as atividades previstas, teremos apresentações tradicionais, como o samba baiano e desfile para valorizar a beleza do povo negro. Acreditamos que essa comemoração será uma oportunidade de fortalecer os laços de união e respeito entre todos os membros da comunidade, promovendo a valorização da diversidade e o combate ao preconceito”, explica a professora.
A comemoração, que vai acontecer no dia 19 de novembro, não será aberta ao público como costuma ser a famosa Festa junina da comunidade, porque essa comemoração não terá fins lucrativos, e sim o de promover e compartilhar entre os membros a história dos quilombolas.
A professora Flávia, que é uma quilombola, lembra com saudosismo e orgulho de sua vida na Furnas dos Baianos, que já recebeu o nome de Córrego das Antas.
“Meus avós chegaram em Furnas em 1960, meu pai veio da Bahia com 6 meses de idade e foi criado no local, casou e sentiu a necessidade de sair para trabalhar, e anos depois retornar com minha mãe e meus 2 irmãos. Vivi o final da infância até meus 20 anos, quando também precisei deixar meu lugar favorito do mundo, hoje sempre retorno a passeio”, conclui a quilombola.
Desde a assinatura da Lei áurea, que tratava da abolição da escravatura em 13 de maio de 1888 se passaram 135 anos, porém o caminho que o povo negro vem atravessando ainda carrega muita desigualdade. A Luta que tem como maior símbolo Zumbi dos Palmares tem levado essa comunidade a alcançar espaços, mas a caminhada não acabou. O ensinamento desse maior líder que, a partir de 1670, passou a comandar a luta pela liberdade e cidadania do povo negro no Brasil. Uma bandeira que continua tremulando até os dias de hoje. Este ano completou-se 135 anos da assinatura da Lei Áurea. Dos debates até a sanção dessa Lei, nela estavam os ideais de Zumbi, os ideais da liberdade.
Tantas personalidades negras ou não, podem ser lembradas como defensoras da liberdade dos escravos, como Joaquim Nabuco, Castro Alves, Rui Barbosa, José do Patrocínio, André Rebouças, Luís Gama, Antônio Bento entre outros anônimos também, que se levantaram contra o pensamento escravocrata e racista. Raiz do pensamento que infelizmente ultrapassou os séculos e resiste até hoje.
Os abolicionistas queriam mostrar à sociedade da época que os negros eram simplesmente seres humanos e a cor da pele era a única diferença. Queriam mudar a forma de pensar e agir das pessoas, querem justiça.
Chegamos em 2023 e o que recentemente assistimos em vídeos nas redes sociais, na imprensa fatos que expressam que o preconceito ainda existe na nossa sociedade, mas que os movimentos sociais estarão atentos para pressionar por mudanças nas leis que possam reprimir qualquer tipo de discriminação. Principalmente pela cor da pele. Esse movimento permitiu que "O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra”, celebrado em 20 de novembro, fosse instituído oficialmente através de uma Lei, de 10 de novembro de 2011. A data faz referência à morte de Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares, situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na Região Nordeste do Brasil.
Estudos sociológicos da Fundação Fernando Henrique Cardoso, mostram que em 2003, foi criado o Dia Nacional da Consciência Negra, e em 2012, foi sancionada a Lei de Cotas para o Ensino Superior. Em 2019, a pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apontou que, pela primeira vez, os negros passaram a ser maioria nas universidades e faculdades públicas. Mas a discriminação contra pessoas pela cor de sua pele, segue presente como um traço da sociedade brasileira.
A Câmara dos Vereadores de Aquidauana, aprovou no dia 7 de novembro, o projeto de lei do vereador Humberto Torres (PSDB), incentivado pela presidente da comunidade Quilombola, furnas dos Baianos, Dona Ivete, estabelecendo que a festa junina “Arraiá dos Baianos”, realizado pela comunidade quilombola, furnas dos Baianos, seja Patrimônio Cultural Imaterial de Aquidauana.
A votação contou com a participação de todos os parlamentares que compõem a casa de leis, como o vereador Nilson Pontim (MDB); Reinaldo Kastanha (UNIÃO BRASIL); Humberto Torres (PSDB); Chico Tavares (PT); Professor Clériton (PP); Sargento Cruz (MDB); Marquinhos Taxista (PDT); Wezer Lucarelli (PSDB); Everton Romero (PSDB); Sebastiãozinho do Taboco (PSDB); Tião Melo (SOLIDARIEDADE); Walter Neves (PSD) e Anderson Meireles (MDB) que aprovaram por unanimidade o projeto. Agora, ele segue para o poder executivo do município para apreciação do prefeito Odilon Ribeiro, que pode sancionar ou vetar o projeto.
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