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Giovani José da Silva

HISTÓRIAS DE ADMIRAR: VALE TUDO POR UM LIKE?

      Passados quase dois anos da gravação de minha participação no quadro “Quem quer ser um milionário”, do antigo programa de televisão Caldeirão do Huck (ocorrida em 20/08/2020), volta e meia me perguntam como tenho lidado com a fama, desde então. Que fama, cara pálida? Não me tornei famoso, não, minhas gentes... Embora já tenha trabalhado em televisão – como consultor da telenovela Alma Gêmea, por exemplo, além de outros pequenos quefazeres –, tendo sido fotografado para algumas revistas (Caras, Quem) e dado entrevistas para veículos de comunicação diversos, isso não me tornou um homem de fama (se a entendermos em seu significado básico, como a “condição do que é conhecido por muita gente”). Nem mesmo a participação em um programa que mobilizou milhões em uma tarde de sábado (17/10/2020) me garantiu muita notoriedade. É verdade que o meu perfil no Facebook rapidamente se viu “lotado” de amigos instantâneos que na semana posterior à exibição do quadro já tinham saído de minha vida exatamente do jeito que entraram... Quando recebi o Prêmio Professor Nota 10, em 2001, como o melhor docente da escola pública brasileira, senti o “gostinho” de estar cercado por jornalistas, políticos e “celebridades”, mas já sabia que à meia-noite a carruagem viraria abóbora e, no dia seguinte, as coisas voltariam ao normal, ou melhor, eu voltaria à condição de “mais um na multidão”. Por que resolvi escrever sobre isso nesta semana? Talvez, porque, uma vez mais, vejo polêmicas bizarras invadindo as redes sociais, promovendo debates ineficazes, tentando preencher os vazios de nossas existências, desfocando nossos sentidos da importante peleja que nos aguarda em breve. Sim, caros leitores, irmãos (e irmãs) se desentendem, há homens que se comportam (muito) mal em relação às mulheres, meninos pobres que criam bordões engraçadinhos (alguns insuportáveis) e outros que tais. A questão a ser posta é que tudo isso faz parte de um grande “circo de horrores”, em que cada passo dado (ou não) é planejado por “marqueteiros”, “agentes” e outros profissionais dedicados a colocar (algumas poucas) gentes em evidência a qualquer custo. Quando se compreender que “barracos” e eventos midiáticos similares são, na maior parte das vezes, orquestrados para parecerem “reais” e o objetivo é tão somente aumentar os índices de popularidade deste ou daquela pessoa (seja o presidente da República, o ator de TV ou a vizinha blogueira), haverá mais tempo para o que realmente importa em nossas vidas. Sempre há aqueles a dizer que precisamos de distrações desse tipo e que tais mesquinharias são inofensivas e dão certo colorido à vida. Ouso discordar e reitero que enquanto se fica preocupado com o divórcio litigioso de Fulana, as declarações “sem noção” de Cicrano ou as opiniões retrógradas/ conservadoras de Beltrano, perdemos todos! Perde-se a oportunidade de se falar sobre a ausência de equipamentos culturais (bibliotecas, museus, salas de cinema etc.) Brasil fora, perde-se o rumo do debate político tão necessário em tempos sombrios, perde-se a chance de compartilhar pequenos prazeres e impressões sobre filmes, livros, peças de teatro, músicas... Por falar nelas, as músicas, o quão difícil é para muitos entenderem que nesse “velho mundo sem porteira” (como diria a minha mãe) capitalista, em que tudo é transformado em mercadoria, gostos – inclusive e especialmente os musicais – são moldados e manipulados a bel prazer de quem (des)manda no tal mercado. Afinal, tudo gira em torno do dinheiro, de quem o tem e de quem deseja (ou aparenta) tê-lo. Se a questão é “aparecer” ou somente parecer com alguém rico e bem-nascido, um celular com câmera na mão pode ajudar muito (e fazer alguns estragos, também). Falem bem, falem mal, mas falem, em um mundo de superficialidades, mergulhado em um labirinto de opiniões (muito comum hoje em dia, em que “todo mundo” quer dar a sua!). Quanto a mim – e voltando ao início do texto – que bom que se deslembraram de mim tão rapidamente e me deixaram em paz, assediando a outros, dispostos ao “vale tudo” por um like dos dias de hoje. Prefiro ser esquecido num canto qualquer a vender a alma a quem quer que seja para ganhar dinheiro, poder ou prestígio social, explorando a ingenuidade e a boa-fé de gentes desesperançadas/ despedaçadas. Posso garantir que, hoje em dia, o canto dos pássaros me soa muito melhor que os aplausos e que o gesto afetuoso de um vizinho prestativo me é mais caro que um tapinha nas costas em algum convescote científico... Como diria o poeta Ovídio (43 a.C.-17 ou 18 d.C.), “A consciência tranquila ri-se das mentiras da fama”!

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