Acabou! Finalmente, Um lugar ao sol (ou A lugar nenhum ou, ainda, Um cachorro correndo atrás do próprio rabo) chegou ao final na noite da última sexta-feira, dia 25 de março. Foi um epílogo melancólico, mal explicado, recheado de diálogos – como é característico da autora, Lícia Manzo (vide A vida gente e Sete vidas) – substitutos de ações dramatúrgicas, o que, diga-se de passagem, ocorreu ao longo de toda a trama (que eu ouso chamar de trama-trauma)... Não, caros leitores, eu não sou um hater que somente sabe destilar “veneno” em minhas críticas, ao contrário: eu amo telenovelas desde muito pequeno, as acompanho, participei como consultor de algumas e, ultimamente, escrevo sobre elas! Justamente por amá-las tanto é que fico indignado quando o nosso produto audiovisual mais emblemático é (des)tratado de forma tão despudorada e, paradoxalmente, aplaudido por parte da crítica. Quanto ao público – o principal destinatário de uma telenovela –, esse foi solenemente ignorado e fugiu de Um lugar ao sol como o Diabo foge da cruz! Conseguiu-se, inclusive, a façanha de superação de históricos fracassos do horário das 21 horas (Babilônia, A lei do amor e Em família, dentre outros) e o que se viu foi a pior audiência de todos os tempos... Aqui não se está defendendo que novelas e/ ou séries devam se dobrar ao gosto da audiência: antes, trata-se de envolver os espectadores em tramas inteligentes, ágeis, respeitosas (especialmente com o público médio) e não, simplesmente, os agradar. No quesito envolvimento, a novela de Manzo mostrou-se incapaz de estabelecer vínculos afetivos, especialmente com o protagonista, interpretado por um apático Cauã Reymond, em uma personagem que não criou empatia alguma, torcida zero (a não ser para que se “ferrasse”), cheio de caretas e olhares vazios... Na ausência de ações robustas, haja paciência para diálogos enfadonhos, intermináveis, cansativos, como se a novela fosse uma longa sessão de terapia. Aliás, “metade” do elenco parece ter passado pelo divã da personagem de Regina Braga, o que mostra a quantidade de gentes problemáticas que desfilaram pela tela, em eternos loopings de sofrimentos e dores... Minha mãe, por exemplo, desistiu de acompanhar a história de Christian/ Renato lá pela metade: “é muito sofrimento, meu filho! Não damos uma risada com isso!”. Uma porção de clichês foram despejados ao longo dos 119 capítulos da novela, algumas verdadeiras “marcas registradas” da autora: acidentes, doenças, pessoas escutando atrás das portas e a ótima Ana Beatriz Nogueira interpretando, pela enésima vez, uma ex-ricaça amarga... De prédios sem porteiros/ seguranças a telefones celulares que somente funcionavam (ou não) em determinados momentos-chave, por conveniência, claro, além de coincidências inverossímeis/ não críveis, Manzo inaugurou um novo “truque” dramatúrgico: computadores e outros dispositivos eletrônicos cujas senhas podem ser facilmente decifradas! Sabe-se que são necessários “ganchos”, “alavancas” e outros recursos para fazer uma narrativa avançar, especialmente ao longo de meses de exibição de uma produção televisiva. Ocorre que quando esses recursos são toscos, subestimam a inteligência do público e (de novo!) não envolvem a audiência, é mais fácil reportar aos telespectadores certas características: não gostam de histórias/ personagens complexas, preferem histórias lineares, “mastigadinhas” etc. O público responde bem quando é tratado de forma honesta, ainda que nem sempre a trama ou alguma personagem agrade. Sem alívio cômico ou núcleos que trouxessem “leveza” a uma narrativa arrastada, cujo mote nada mais foi do que a requentada história de irmãos gêmeos que trocam de lugar (coincidência ou não, sinopse idêntica, na forma e, parcialmente, no conteúdo, de uma telenovela turca, de 2016: Sol de inverno). Ao fim e ao cabo, Lícia Manzo e outros tantos teledramaturgos(as) precisam entender urgentemente que telenovela é a “arte de vender sabão em pó” (como diria o saudoso diretor Jorge Fernando) e que só se vende bem o tal sabão quando se entrega uma história à qual as pessoas se entregam... Dizer que se fez a novela que se queria ter feito e não a que o público desejava é, ao mesmo tempo, revelar certo desprezo esnobe e que as respostas dadas pelos telespectadores não interessam, ou melhor, só interessam quando são positivas/ bajuladoras. Triste!