A preocupação com a moral e
os bons costumes era a mar
ca registrada daquele cidadão, que não perdia uma missa dominical e fazia questão de levar a família toda consigo. Era um dos primeiros a chegar e costumava cumprimentar à todos com a frase "Deus esteja com você". Nos eventos da paróquia nunca deixava de contribuir, com vultosas somas. Gostava de dizer que Deus era gracioso com ele. Então, precisava retribuir. Com esses gestos ganhava o respeito e admiração das pessoas.
Um dia, porém, algo inesperado aconteceu. A filha mais velha, Anita, ainda adolescente, ficou grávida. Ela e um garoto, filho do capataz da fazenda, estavam namorando às escondidas. Sabia que o pai não aprovaria a relação, não apenas por sua idade - ela estava com 15 anos - mas porque seu sonho era vê-la casada com o filho de um amigo fazendeiro. Nessa época quase sempre os pais interferiam na escolha dos parceiros para os filhos, especialmente quando se tratava de mulher.
- Papai, estou grávida, disse-lhe a filha, depois de chamá-lo de lado.
Ele deu um pulo ao ouvir aquelas palavras. Quando foi informado sobre a situação, de seus lábios saiu um grito, que de longe se ouviu. Em seguida, agarrou a filha e começou a espancá-la. Depois deste dia, a menina nunca mais foi vista na fazenda. Como a cidade era pequena não faltavam os mais diferentes comentários. Para muitos ela teria sido mandado embora de casa, por ter ferido a honra da família. Obviamente todos foram solidários à dor do homem religioso, que estava chocado com a transgressão da filha.
Os anos se passaram. Certo dia, numa casa de prostituição de luxo, em São Paulo, uma das garotas foi orientada a preparar-se para receber um cliente muito rico, do interior de Mato Grosso do Sul. Nestes casos geralmente era ela uma das escolhidas, pois tinha uma beleza singular. Seguiu-se, então, uma cena surpreendente. Ao abrir a porta, para receber o cliente, ela ficou paralisada.
- Pa.. pa.. Pai - gaguejou, assim que tomou fôlego. Diante dela estava aquele que sempre fora apontado como um modelo de integridade para as pessoas de sua cidade e a quem ela havia decepcionado. Naquele dia em que comunicou o seu deslize, ficou tão envergonhada com o sermão que ouviu, depois de ter apanhado sem piedade, que pegou as suas coisas e saiu pelo mundo, sem nunca mais fazer contato com a família. Desesperada, aceitou a sugestão de abortar, feita por uma mulher que conhecera na grande metrópole. Era uma cafetina. Foi assim que Anita começou a prostituir-se. Mais do que decepcionada consigo mesma, ela começaria a decepcionar-se com a hipocrisia das pessoas, pois tinha entre os clientes muitos homens que, aos olhos da sociedade, eram moralmente íntegros. Mesmo assim, ela jamais poderia imaginar que entre esses homens estaria seu pai. Naquela tarde de outono o cliente especial era ele. Pagara, antecipadamente, uma alta soma para fazer um programa, rogando para a cafetina que mantivesse sigilo.
Pastor da Igreja Presbiteriana
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