Ruben Figueiró de Oliveira
Após longa temporada sem dele ter notÃcias, resolvi procurar o meu amigo PompÃlio, gaúcho destemido, de linguagem desabrida, indócil tal como um potro bagual. Despertaram-me não só saudades do velho companheiro, cuja idade não esmaeceu a inteligência lúcida e a viva percepção do dia-a-dia contemporâneo. Não só saudades; desejava também ouvÃ-lo. Saber como PompÃlio entendia os acontecimentos que turvam o cenário polÃtico social e econômico da nação.
Como sempre entendi dele, PompÃlio não tem papas na lÃngua e se disse profundamente preocupado com as perspectivas que se abrem para o futuro do PaÃs. Para ele, os escândalos que atingem a dignidade do Senado da República e, antes, obumbraram com o manto da ignomÃnia a estrutura da Câmara dos Deputados são fichinha para o que se pretende fazer com as instituições nacionais. Aquelas, apenas fazem parte de um "trailler"para o espetáculo polÃtico que devagar - "de passito", como PompÃlio diz - os autores fantasmagóricos estão no escuro nos bastidores montando. O objetivo é mostrar aos dóceis e até incrédulos espectadores - o povo - que o que aà está - o Congresso Nacional, o Poder Judiciário - não é o ideal para a tranqüilidade e o bem estar da comunidade e, portanto, mudanças institucionais profundas devem ser realizadas. E devem ser planejadas e implementadas por quem tem a sensibilidade das causas populares, vem da terra seca, adusta e ardente, conhece a angústia do migrante pau-de-arara, foi aprendiz do SENAI, enxergou o sindicalismo obreiro como alavanca para alçar-se a objetivos maiores e, atingindo-os, deles se apraz e está na ansiosa espectativa de mais querer. Inteligente, persuasivo, usa o modelo polÃtico corrente para as "negaças" próprias de seu temperamento; estimula seu séqüito de bajuladores e aproveitadores pantagruélicos para que desmoralize o Congresso, atinja a jugular do Senado da República (onde não possui maioria cordeira) e fingindo-se de autêntico democrata, nega o que mais deseja: o terceiro mandato consecutivo. Nessa sua performance - lá onde está, Maquiavel se manifesta perplexo com astúcia do voluntário discÃpulo - lembra aquela estória do sapo (nenhuma alusão ao adágio "sapo barbudo" que lhe atribuiu o memorável Leonel Brizola) quando questionado o que mais preferia: a água ou a fogueira!
PompÃlio lamenta a frouxidão dos partidos polÃticos, principalmente ao do seu lembrado MDB ( não consegue soletrar a denominação atual PMDB) que deixou de ser aquele dos sonhos de Ulisses Guimarães e o hoje humilhado senador Pedro Simon, cujo pensamento maior era o bem da nação. O PMDB de hoje, segundo PompÃlio, traiu suas origens históricas, é fisiológico e só "pensa naquilo"... em empregos !
PompÃlio, já em idade provecta, lamenta não ter mais forças fÃsicas para lutar; está descrente da nossa mocidade sem vigor e estÃmulo cÃvico. As chamadas classes empresariais estão anômicas, anestesiadas, parte pelos ganhos faraônicos que desfrutam pela onda econômica global, parte porque descrente da ação estimuladora que deveria vir do Estado nacional. Os trabalhadores, classe da qual PompÃlio faz parte, estão amortecidos pelas tais centrais sindicais, satisfeitas estas pelas régias benesses de seu maior usufrutuário polÃtico, o presidente.
PompÃlio foi enfático. Pelo que se vê, ausculta, observa, sente-se no ar, não tem dúvidas: Lula quer já um terceiro mandato, crê nele, até porque não pode ser ultrapassado pelo apetite afrontoso de seu correspondente lá da Venezuela, o pré-ditador Hugo Chaves...
Já no final de nosso encontro, o velho gaúcho, a sua maneira espontânea de largos gestos francos, sem assombros, "aporreado", lançou esta tirada: "a lei é uma prostituta; sorri para os que tem a carteira mais recheada". A decepção popular está ganhando horizontes tais que muitos já começam assim também pensar - infelizmente.
Deixei a residencia do amigo PompÃlio mais apreensivo do que quando lá cheguei.
* Foi deputado estadual, federal, secretário de Estado, conselheiro do Tribunal de Contas. É suplente de senador.
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