O choque da morte do piloto Rafael Sperafico, domingo em Interlagos, levantou a questão da segurança na Stock Car. O chassi utilizado na Stock Car Light, onde competia Rafael, é o mesmo do empregado na categoria principal. Quando se fala em segurança, tem de se pensar no carro, nos circuitos, nos comissários de pista, no comportamento dos pilotos, no serviço de resgate, atendimento médico e condições ambulatoriais. Mas há consenso num ponto em relação ao acidente fatal na sexta volta da Stock Car Light, domingo: se não existissem pneus de proteção naquele ponto do muro da Curva do Café, o carro de Rafael provavelmente não retornaria à pista naquele ângulo desfavorável, o que poderia evitar a colisão do piloto Renato Russo contra o seu stock car.
"Deixamos o autódromo como ficou depois do GP do Brasil de Fórmula 1, inspecionado pela FIA", disse ontem o administrador de Interlagos, Chico Rosa. "Eu também entendo que a proteção de pneus no fim do muro do Café pode ser boa para carros como os de Fórmula 1, mas não para os de turismo, tipo do stock car", explicou. "Nós questionamos o posicionamento dos pneus, é o caso de se repensar a segurança daquele ponto do circuito", falou Inácio Caltabiano, diretor de operações da Stock Car.
O ex-piloto Milton Sperafico, tio de Rafael e pai dos pilotos da Stock principal Ricardo e Rodrigo, foi claro, ontem no enterro do sobrinho: "Essa morte poderia ter sido evitada se não houvesse pneus naquele muro." Opinião semelhante tem Ingo Hoffmann, 12 vezes campeão da Stock.
Luciano Burti, piloto que já competiu na Fórmula 1 e hoje está na Stock Car, comentou: "Pensei muito sobre o que aconteceu. Em um acidente daqueles não tem como o piloto sobreviver, mesmo que a gaiola de proteção resistisse ao dobro das forças envolvidas. Mas isso não quer dizer que a segurança de que dispomos na gaiola de proteção seja a ideal."
Há queixas contra a proteção lateral. "Já pedimos aperfeiçoamento nesse sentido, mas a idéia não avançou por causa do custo da mudança. Está claro que não fizemos o possÃvel para evitar situações de elevado risco", afirmou Burti.
Zeca Giaffone, da empresa J e L, construtora dos chassis da Stock Car, lembra que o projeto do carro é de 1999, do argentino Edgardo Fernandez, e nos acidentes registrados sua resistência acabou comprovada. "Na realidade, vimos no ocorrido com o Gualter Salles, ano passado, em Buenos Aires, ser necessário rever a fixação da carenagem de fibra, projetada para proteger as pernas do piloto no sentido de não sair do carro, como aconteceu lá."
O projeto teria de ser revisto como um todo em razão de a carenagem representar quatro montadoras, Chevrolet, Mitsubishi, Volkswagen e Peugeot, cada uma fixada de uma forma. "Isso ficou para o projeto de 2009, muito diferente e mais avançado em tudo em relação ao atual", explica Giaffone.