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Entrevista

De office boy a secretário de finanças, Adriano tem a caminhada da vida recheada de orgulho

O aquidauanense é o atual secretário da pasta de finanças de Dois Irmãos do Buriti

Aos 34 anos, Adriano Gomes leva com gratidão a sua trajetória de vida. O aquidauanense de família humilde, criado pela mãe e avó, não imaginaria o que o destino iria lhe reservar. Ainda adolescente, aos 15, era o office boy "faz-tudo" que percorria a região de Dois Irmãos do Buriti atrás de soluções.

De office boy a secretário de finanças, Adriano Gomes é o aquidauanense que leva Dois Irmãos do Buriti no coração.

E foi em cima da bicicleta – nada de moto, viu? – que as encontrou. Com o tempo, criou vínculo afetivo com a cidade que sua mãe optou por morar. De Campo Grande, onde viviam juntos até então, foi parar em Dois Irmãos. Tomou gosto. Fez amizade com os cidadãos buritienses e até se tornou um de coração. Com o trabalho de servidor público, Adriano subiu cada degrau, perseverando o destino... e se encontrou no meio do caminho.

Assumidamente gay, hoje ele é o secretário-chefe das finanças e do administrativo do município distante 70 quilômetros de Aquidauana, com três diplomas e uma especialização debaixo do braço e ainda de leva uma aliança no dedo do seu "namorido".

Deixando para trás a timidez e o medo de se assumir, hoje ele leva no dedo a aliança de Max, seu grande amor.

Ao contar detalhes do passado em entrevista O Pantaneiro (confira mais abaixo o bate-papo exclusivo), Adriano também deu suas opiniões sobre a economia da região pantaneira, desafios de estar secretário de finanças de Dois Irmãos do Buriti e de como a pandemia afetou tanto seu trabalho como sua vida particular. Principalmente, pela perda da matriarca Maria Marta – sua querida "vozinha" – para a covid-19.

"Uma das maiores tristezas que já passei, se não a maior", afirma.

"Uma das maiores tristezas que já passei", lamenta; sua avó Maria Marta pegou o vírus da covid-19 e morreu este ano.

"Minha avó e minha mãe Ramona Gomes foram como 'pai', mãe e avó ao mesmo tempo. Elas sempre me apoiaram, em todos os sentidos, desde que me assumi gay aos 24 anos até assistirem a minha formatura. Ainda, acompanhando o meu crescimento na carreira pública. Por causa delas e de tantas outras pessoas no meu caminho, me tornei o homem realizado que sou hoje", agradece.

Registro de um aniversário da família, ao lado dos seus entes queridos: mãe, padrasto e o casal de irmãos mais novos.

Na infância, Adriano revela ter sido uma criança muito tímida, bastante reservada. "Mal falava com as pessoas. Hoje sei que isso se deve ao fato de eu me entender enquanto homossexual. Morria de medo de ser humilhado ou passar por chacotas como alguns amigo sofriam. Isso se refletiu na minha vida adulta, mas aos poucos fui me soltando, mostrando às pessoas quem realmente sou", reflete.

De office boy a secretário de finanças, Adriano teve base forte por parte de pessoas que o fizeram levantar voo. Ainda, seu compromisso em crescer na vida se juntou a – claro – uma pitadinha de sorte. No caminho, seu potencial para brilhar foi observado e incentivado por amigos, familiares, comerciantes, secretários e até prefeitos.

Foi em Dois Irmãos onde Adriano cresceu na vida; hoje é o secretário da pasta em que começou como "faz-tudo".

"Acredito que todo mundo merece ter reconhecimento no que faz de melhor. E hoje tenho a certeza, o amor, o gosto, pela carreira pública. Acho que minha maior característica nisso tudo é eu insistir na solidariedade, de ser uma pessoa que preze pelo colaborativo. Isso me fez ser um homem mais forte, e é meu diferencial para continuar me dedicando ao trabalho", assegura.

"Quando olho para a minha história e vejo o quanto cresci, amadureci e mudei, de um garoto de apenas 16 anos para estar hoje enquanto secretário de finanças aos 34, não há sentimento que descreva o que eu sinto no peito. Se eu pudesse resumir em uma só palavra, com certeza seria: orgulho".

Confira abaixo a entrevista exclusiva de Adriano ao O Pantaneiro:

Me conta um pouco da sua trajetória, até chegar a onde se encontra hoje na carreira pública.

Eu comecei trabalhando em um programa que hoje em dia se chama Rede Jovem. Na época, eu era de menor aprendiz mas já estava envolvido na secretaria de finanças, a gestão do ex-prefeito Osvane (2001-2008). Fiquei lá até chegar a maioridade. Como eu não poderia mais continuar no programa, o prefeito me deu um cargo comissionado. Após seu primeiro mandato, ele foi reeleito e eu continuei trabalhando na secretaria. Sirlei era a chefe da pasta na época. Com a eleição do Japão em 2009 (primeiro mandato), tive a oportunidade de trabalhar junto dele no escritório de finanças. Isso me deu a oportunidade de desempenhar outros papéis. Com o tempo, fui conseguindo mostrar meu potencial.

Eu já fazia faculdade de Geografia e resolvi emendar no curso de Administração. E assim tirei os dois diplomas. Na sequência, antes de terminar a faculdade, já ingressei em uma especialização de Gestão Pública Municipal. Ainda, em 2018, no mandato do ex-prefeito Edilsom (2017-2020), fui parar na faculdade de Ciências Contábeis. Neste ano de agora (2021) já tiro o novo título. Japão foi reeleito no ano passado para mais um mandato e me fez de braço direito dos secretários Sidney Ferreira e Júlio César de Souza. Vendo tudo o que eu já fiz na pasta, o atual prefeito me colocou no cargo de secretário de finanças. Agradeço muito ao Japão pela sua confiança depositada à mim, pela amizade que firmamos, e aos outros ex-chefes do executivo, todos que me fizeram crescer.

Registro de Adriano com sua equipe de trabalho; "trabalhar com finanças em meio à pandemia é um desafio", afirma.

Ser secretário de finanças em plena pandemia vem sendo o maior desafio da sua vida até o momento?

É claro que do ano passado pra cá vem sendo difícil. É um baita de um desafio, pois estou tendo a oportunidade de expandir minha visão. À frente da secretaria, as decisões que antigamente eu apenas opinava agora bato o martelo junto do prefeito. O bom de eu já ter passado por outros gestores foi identificar pontos positivos e negativos. Eu entendo as finanças como um coração. Tudo passa por aqui. Com a covid-19, eu sinto ainda mais a responsabilidade do cargo. Quando a gente pensa em um secretário de determinada pasta, a gente sempre pensa em alguém de idade. Mesmo aos 34 anos, isso não quer dizer que eu não tenha experiências que me tornam apto ao cargo. Inclusive, recentemente fui convidado pra fazer parte do Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária) de MS. Isso foi mais uma provação do trabalho que eu venho desempenhando. Levar as minhas ideias à frente e ajudar o município que eu aprendi a amar muito é bastante significativo.

Na foto, Adriano assina documento de posse como membro do Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária).

A pandemia mostrou quanto o turismo se faz necessário para sobrevivência econômica da região pantaneira. O que Dois Irmãos do Buriti tem pensado sobre isso?

A covid-19 obrigou o mundo inteiro se reinventar. Mesmo Dois Irmãos sendo um município pequeno, reativamos certos potenciais nesses últimos seis meses. Como é o caso do distrito de Palmeiras, mas também outros que estão ao redor. Com a retomada do Centro de Informações Turísticas, esperamos divulgar ainda mais a região da Estrada Parque. É encantadora, todo mundo deveria conhecer. É nosso obrigação divulgá-la. Por aqui, eu, o prefeito Japão, juntamente com os nossos vereadores e o restante da câmera legislativa, estamos fazendo isso.

E na agricultura? Quais foram as realizações do município do último ano pra cá?

Estamos investindo recursos municipais nos pequenos agricultores. Tanto é que esse potencial tem despertado o município para instituições como a Sicred, que vem sendo uma grande apoiadora. Quem sabe, futuramente até ganharmos uma nova agência. Ainda, o pessoal da New Holland Agriculture (marca da CNH Industrial) vem pela primeira vez ao Estado com uma exposição na avenida principal, mostrando às pessoas o quanto é importante termos investimento no segmento.

Adriano ao lado do chefe de gabinete do atual prefeito de Dois Irmãos do Buriti e a representante da Agehab.

Parcerias com outros municípios já foram firmadas?

No momento, não. Nosso município não está à margem da BR-262, por isso às vezes ele fica um pouco despercebido. Mas essa rodovia que dá acesso teve o tráfego aumentado nos últimos tempos devido à demanda agrícola de Sidrolândia – nossa vizinha, assim como Anastácio e Terenos também. Então, a economia tem girado por aqui. A verdade é que o município ainda não é o mais conhecido. Eu, que sou natural de Aquidauana e com família em Campo Grande, até então tinha conhecimento daqui. Foi vindo pra cá, vivendo e trabalhando, que descobri o seu potencial. É o mesmo caso de outras pessoas do meu convívio. É nosso papel falar sobre o município para todo mundo. Para se ter uma ideia, eu que moro aqui há quase 20 anos fiquei sabendo há pouco que Dois Irmãos está no ranking dos maiores produtores de laranja do Estado – na segunda ou terceira posição, se não estou enganado. Ainda, o potencial turístico é muito forte. Nossa região, cada um dos municípios, tem muito a contribuir ao redor.

"Se eu cheguei onde estou hoje não foi uma conquista só minha, mas também das pessoas que acreditaram em mim".

Ter esse compromisso com Dois Irmãos do Buriti é a forma que você encontrou para retribuir a sua trajetória?

Com certeza. Quando eu assumi o cargo sabia que se tratava de uma “confiança”. Um pouco de mim se tornou político e eu quero mostrar à sociedade que nós estamos aqui para ajudar, para colaborar, para buscar fazer acontecer coletivamente. As pessoas ainda confundem o nosso trabalho, levam muito para o lado pessoal, mas a realidade é que quando fazemos alguma melhoraria, algum investimento, é pensando no todo, tendo uma visão ampla, de futuro. Isso também é algo que eu enqanto secretário posso ajudar a desmitificar. Por mais que Dois Irmãos seja pequeno, isso aproxima nós com nós mesmos. Acaba que ficamos sabendo da vida um do outro, isto é, o que realmente precisamos como um coletivo. E o trabalho da secretaria reflete diretamente na sociedade. Espero eu dar um respaldo social de sucesso, em que eu possa me orgulhar.

Para finalizar, você gostaria de deixar um recado ou agradecer alguém?

Eu tenho muito amparo familiar, da minha mãe, dos tias e tias, dos meus primos também. E claro, do meu amor e "namorido", o Max. Se eu cheguei onde estou hoje não foi uma conquista só minha, mas também por causa das pessoas que acreditaram em mim. Minha mãe é uma peça fundamental nisso tudo. Sou eternamente grato à ela. Hoje estou aqui como secretário, amanhã posso não estar mais. Assim é a vida. O importante é a gente levar as experiências em nosso caminho, as coisas que a gente fez e se orgulha. Eu quero poder deixar minha marca, mostrar às pessoas do que sou capaz. E à todos que confiaram e ainda confiam em mim, só tenho a agradecer.

Atual secretário de finanças do município, Adriano é formado em Geografia, Administração e Ciências Contábeis.

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