No último sábado, um protesto violento em defesa dos animais interditou a rodovia Raposo Tavares / Gabriela Batista
Em nota oficial divulgada nesta segunda-feira, o Instituto Royal nega a prática de maus-tratos e alega oferecer as ?melhores condições de vida, com saúde, conforto, segurança e recreação? para seus animais. Na madrugada da última sexta-feira, ativistas invadiram a sede da empresa na cidade de São Roque e retiraram 200 cachorros da raça beagle, 50 coelhos e alguns gatos mantidos como cobaias de experimentos científicos.
Segundo o laboratório, a invasão prejudicou pesquisas e um patrimônio genético que demorou dez anos para ser reunido. Para o instituto, com a invasão, a sociedade brasileira deixará de ter a sua disposição medicamentos inovadores para tratamento de doenças como câncer, a preços acessíveis.
Os ativistas alegam que tentaram dialogar com os diretores do instituto por um ano, após receberem denúncias de que os animais eram submetidos vivos a dissecação, entre outras crueldades registradas em boletim de ocorrência. A Polícia Civil investiga as acusações.
Após a invasão, o Instituto Royal também registrou boletim de ocorrência em que acusa os manifestantes de furto qualificado e dano. As dependências do instituto foram destruídas durante a captura dos animais. A direção do instituto classificou a invasão como "ato de terrorismo" e informou que suas atividades são acompanhadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A agência informou por meio de nota que "as regras para o uso de animais em pesquisa não são definidas pela Anvisa e não são objeto de fiscalização".
Investigação ? Há quase um ano, o Ministério Público de São Roque investigava o laboratório e ainda não havia encontrado nenhuma irregularidade nos testes realizados em cães no Instituto. Para o promotor que conduz a investigação, Wilson Velasco Júnior, a invasão prejudica a apuração dos fatos.
"Uma das linhas de investigação era a análise da condição física dos animais, mas como eles não estão mais lá [no Instituto Royal], a eventual perícia foi prejudicada?, afirmou Velasco, reiterando que a apuração continuará, mesmo com a ausência das provas materiais.
A Câmara dos Deputados prepara a criação de uma comissão para investigar denúncias de maus-tratos a animais. Segundo a assessoria de imprensa da presidência da Casa, o deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) deve apresentar nos próximos dias o requerimento que formaliza o pedido. Cabe ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-AL), viabilizar sua implementação.
Protesto - No último sábado, um protesto violento em defesa dos animais interditou a rodovia Raposo Tavares, que liga a cidade de São Roque à capital, na altura do quilômetro 55. A ação de black blocs resultou em cenas de vandalismo e depredação de uma viatura da polícia e de dois veículos da TV Tem, afiliada da TV Globo. A polícia usou gás lacrimogêneo e balas de borracha e quatro pessoas foram detidas.
Beagle ? O Beagle é considerado uma raça padrão para pesquisas científicas. O repertório de estudos com eles é grande. "Cientistas preferem trabalhar com raças cuja resposta já é conhecida", afirma Francisco Javier Hernandez Blazquez, vice-diretor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP.
Outro motivo para a ampla utilização do beagle é o fato da raça ter uma genética estável, com pequena variação entre indivíduos. Essa característica permite que o pesquisador tenha mais certeza de que o resultado obtido na pesquisa decorreu da droga testada, e não de alguma alteração daquele animal específico em relação à sua raça.