A cotação média paga pela arroba do boi gordo em Mato Grosso do Sul sofreu valorização de 12% desde setembro, o que evidencia a forte escassez de animais prontos para abate. A estiagem prolongada e a retração nos últimos anos no efetivo bovino, principalmente de fêmeas, são apontadas como os principais fatores que vêm contribuindo para a escalada dos preços.
Se de um lado as indústrias são forçadas a elevar os valores pagos aos produtores pelos bovinos, como forma de incentivar as negociações e garantir a escala de abate nos frigorÃficos, na outra ponta da cadeia produtiva poucos pecuaristas conseguem aproveitar as atuais cotações, uma vez que não há gado pronto para a venda.
Em setembro, por exemplo, a arroba negociada em MS girou em torno dos R$ 58,00, sendo que no mês anterior (em agosto) havia atingido R$ 60,00. Na ocasião, muitos produtores comercializaram seus rebanhos por acreditar que a arroba havia atingido o pico de preço. Em outubro, no entanto, a cotação média paga no Estado já estava na casa dos R$ 61,00 e, neste mês, chegou a ficar acima dos R$ 65,00.
Para o analista de mercado pecuário Júlio Brissac, a oferta de boi está retraÃda em consequência do movimento de diminuição do rebanho bovino nos últimos três anos, intensificado com o abate de vacas, o que tem culminado, neste ano, na falta de boi. "Vale ressaltar que a seca foi forte e desestabilizou ainda mais o mercado, que tradicionalmente entra em desequilÃbrio na entressafra", disse. A consequência deste cenário, segundo Brissac, será a continuação dos preços da arroba em ascendência até janeiro, uma vez que a oferta está limitada.
O consultor lembra que o consumo brasileiro de carne bovina responde por quase 80% da produção da pecuária nacional, de forma que a tendência de aumento no consumo das carnes nas festas de final de ano deve ser mais um fator que influenciará para cima os preços da arroba, pois a procura pelo produto aumenta e a oferta tende a continuar tÃmida. "O consumo brasileiro tem grande importância sobre a pecuária e vem crescendo nos últimos anos, enquanto o rebanho foi reduzido", lembra.
Diante deste cenário, apesar de os preços pagos pela arroba neste mês estarem quase 28% maiores que os praticados em janeiro deste ano - quando a arroba girava em torno de R$ 51,00 - "o mercado caminha para uma realidade próxima à vivenciada hoje no Rio Grande do Sul, onde as negociações de gado equivalem a uma arroba na casa dos R$ 76,00", disse. Brissac lembrou ainda que os preços tendem a cair de forma mais rápida que subir.
Ainda assim, segundo ele, é preciso que os pecuaristas saibam trabalhar estrategicamente, contando com informações confiáveis de mercado, para aproveitar as oportunidades destes ciclos de fortes variações da arroba. "Interessa muito aos frigorÃficos que os produtores permaneçam inocentes diante do mercado. Enquanto muitos venderam seus animais com a arroba por R$ 60,00, alguns aceleraram seus confinamentos, sejam grandes ou pequenos, mas estão conseguindo terminar bois em novembro e vão aproveitar as recentes cotações", explicou. O consultor sinaliza que aqueles produtores que trabalham como reféns do mercado já venderam seu animais por preços inferiores, enquanto alguns montaram suas estratégias para aproveitar as oportunidades deste mercado.