O governo do Quênia afirmou que prendeu dez suspeitos ligados ao ataque terrorista no shopping Westgate, em Nairóbi, que foi tomado por homens armados no sábado. Ainda não há detalhes sobre as prisões ou informações se eles ocorreram no shopping ou em outros pontos da capital. Na manhã desta segunda-feira, tropas do governo invadiram o edifício e soltaram os últimos reféns que estavam nas mãos dos terroristas. Durante a ação, três suspeitos morreram. Onze soldados ficaram feridos.
Poucas horas depois da ação, o governo anunciou que todos os andares do shopping estavam sob controle das tropas, mas por volta de 20 horas (14 horas em Brasília), ainda eram ouvidos disparos dentro do prédio, segundo a BBC.
?Todos os andares estão sob controle. Não estamos aqui para alimentar os agressores com doces, mas para terminarmos o serviço e punir os responsáveis?, informou o chefe da polícia do Quênia, David Kimaiyo, em sua conta no Twitter no início desta tarde.
Durante os dois dias de cerco, morreram 62 pessoas, segundo a Cruz Vermelha e o governo queniano ? quase todos clientes que estavam no shopping. O número de feridos passa de 170.
De acordo com a BBC, entre os mortos estão até seis cidadãos britânicos, dois franceses, dois canadenses, uma holandesa (que estava grávida), além de um sobrinho do presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta. Também morreu o poeta ganês Kofi Awoonor, que serviu como embaixador do seu país no Brasil entre 1984 e 1988.
Histórico - A tomada do shopping ocorreu no sábado, quando homens armados entraram no centro, abriram fogo contra o público e transformaram o prédio em uma zona de guerra. Havia mais de mil pessoas no local. O grupo terrorista somali Al-Shabab assumiu a autoria do atentado e disse, via Twitter, que a ação foi uma represália contra o Quênia. Desde 2011, o Quênia mantém 4.000 soldados no sul da Somália com o objetivo de combater militantes terroristas do Al-Shabab. Em comunicado, o grupo disse que havia advertido que a presença dos solados teria ?consequências?:
"O governo queniano, no entanto, se fez de surdo às nossas repetidas advertências e continuou a massacrar inocentes muçulmanos na Somália", disse o grupo em seu Twitter oficial, @ HSM_Press. ?O ataque no Westgate Mall é apenas uma pequena fração do que os muçulmanos na Somália passam nas mãos dos invasores quenianos?, disseram os militantes.
Antes do surgimento do grupo Al Shabab, ligado à Al Qaeda, o Quênia já foi alvo de atentados terroristas, como o bombardeio à embaixada americana em Nairóbi em 1998, que foi planejado para marcar o oitavo ano da presença das forças armadas americanas na Arábia Saudita, e os ataques coordenados contra um hotel cujo dono é de origem israelense e contra um avião de Israel em 2002.
Julgamento ? Nesta segunda-feira, o Tribunal Penal Internacional anunciou a dispensa do vice-presidente do Quênia, William Ruto, do julgamento em que ele responde por crimes contra a humanidade. Ruto estava acompanhando o julgamento em Haia, na Holanda, desde a semana retrasada. Segundo o tribunal, Ruto vai poder se ausentar por uma semana do julgamento para poder ajudar a lidar com o ataque terrorista ao shopping Westgate.
Em audiência organizada às pressas nesta segunda-feira, o juiz presidente Chile Eboe-Osuji disse que William Ruto poderá voltar para o Quênia na terça-feira.
O advogado de defesa do vice-presidente havia solicitado o adiamento do julgamento no domingo, segundo dia do cerco ao shopping tomado pelos terroristas.
A presença de Ruto na Corte marcou a primeira vez em que uma autoridade compareceu diante de um tribunal para enfrentar um julgamento internacional durante o exercício de um cargo público. Ruto foi indiciado por orquestrar o massacre de civis em 2007 junto com o jornalista Joshua Sang, que também está sendo julgado em Haia.
O presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, antigo inimigo político de Ruto e atual aliado, também vai enfrentar julgamento por acusações semelhantes no início de novembro.