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Ilustração / O Pantaneiro

Há dois pequenos canteiros, cada um de um lado da entrada da Ponte Velha, que dá acesso a Anastácio (lamentável divisão, na minha opinião mas, este não é o foco deste trabalho).

O rio, que dividiu sempre a Margem esquerda, da Margem direita, serviu como marco geográfico para dividir e formar duas cidades distintas, geopoliticamente, pelos interesses de então. A divisão foi fruto de manobras divisionistas das oligarquias locais, de acordo com as estratégias do velho clientelismo dos antigos coronéis, com vistas a novas alternativas de mandonismo, garantindo a ampliação do poder e distribuição de cargos públicos. Novas perspectivas para antigas formas de poder.

A Ponte velha a tudo testemunhou. Permanece como divisória solene e calada. É um monumento à história de Aquidauana, trajetória de muitos passos de idas e vindas para a Margem esquerda. Por ela passavam a pé, ou a cavalo, de charrete, carroça, caminhões e carros. Ao lado, pequenas passarelas conflitavam pedestres e ciclistas. Atravessar a ponte era algo simbólico, como uma fronteira imaginária, para visitar parentes e amigos que lá moravam. Não acredito que no imaginário local, tivesse passado algum espírito divisionista. Era longe mesmo, nas épocas sem carro ou outros meios. Mas era apenas a outra margem do rio. Sol a pino, areião escaldante, fazia parte de um trajeto normal. A areia branca já se mostrava, no outro lado do rio, como uma promessa para um delicioso banho de rio, ao entardecer, na prainha. A juventude desde os anos 50, já a frequentava, se esbaldando em banhos de um rio histórico, por vezes engolidor de gente. Ainda era limpo o “Rio pequeno”, na língua Kadiwéu, segundo pode ser uma interpretação para Aquidauana.

Antes de atravessar esse “rio pequeno”, passava-se pelos tais canteiros laterais.

Para contar sua história, temos que registrar uma breve memória da reconfiguração de sua urbanização. Para tanto, temos que nominar alguns Prefeitos que, direta, ou indiretamente, formataram esse novo perfil, assim como o plantio do pindó e da pita. Um primeiro salto foi dado na primeira gestão do Dr. Fernando Luiz Alves Ribeiro ( o Tico), de 1954 a 1959, que modernizou a cidade e a calçou com as lajotas até hoje existentes – no grande quadrilátero central - chegando até a ponte. Esse projeto audacioso para a época, retirou os antigos postes de madeira do meio da rua e os deslocou para as calçadas laterais, em nome de um traçado mais moderno e que visualizasse em destaque as novas ruas largas, em nova paisagem urbana.

Para realizar isso, foi montada, então, uma fábrica de lajotas, trazida por um engenheiro italiano, de nome Riccinelli. A partir de então, nessa zona central, não se patinava mais na areia branca e escaldante, que desagradavelmente ainda sujavam os pés. Mas, não podemos esquecer que eles a isso se acostumavam, na construção de nossa infância aquidauanense.

Na gestão do Dr. Rudel Trindade foram feitos os tais canteiros, que ladeiam a entrada da ponte. À direita, nas margens do rio, havia a SATES (Sociedade Aquidauanense de Tênis), esporte aristocrático, praticado pela elite local. Mais tarde, foi clube bem animado e onde foram realizadas festas e celebrações memoráveis, como casamentos e outros. Era o Aeroclube. Hoje, ainda com as varandas que modelavam seu aspecto casual, é o Clube dos Médicos.

À esquerda, na década de 60, um descolado bar, chamado Beira-rio passou a ser o “point” para os finais de tarde até meados da década de 70, salvo engano.

Alguns jovens que “estudavam fora”, como se falava, em férias, gostavam de inventar moda. Eram amigos de infância e formava uma “turma”, no dizer de então. Mais tarde seria a “patota”e assim por diante...

Organizaram festas, por vezes, beneficentes em prol do atual Hospital Regional, à época, uma instituição caritativa.O presidente do Hospital da cidade, foi Tunico Pace, pessoa extremamente agradável, dedicado aos amigos e à saúde coletiva. Quando alguém ficava acamado,era incansável nas visitas, aferições de pressão e outros empenhos. Algumas festas ficaram famosas e de grande repercussão, passando até no antigo Canal 6, hoje TV Morena, afiliada da Globo. Uma delas foi a chamada Noite Cigana, em um antigo e bonito casarão perto do rio, na margem esquerda, até hoje existente.

Resolveram ajardinar os dois canteiros laterais. Um projeto ao acaso, mas elegante, colocou ali 05 pindós, algumas pitas e uma pedra enorme. Para o plantio, muitos dias de dedicação e era o que se chamava de “programa”. Pediram um caminhão e trabalhadores para a Prefeitura Municipal e foram atendidos. Foram para o mato, escolheram as plantas, coordenavam as obras e o ajardinamento se concretizou, dentro do modelo típico do cerrado e moderno na forma, como ditavam os tempos de então. Por muitos anos, os canteiros ali ficaram. Apenas 02 pindós restaram como testemunhas.

Um dos jovens, sonhadores com uma cidade bonita, foi Fernando Augusto Pace, membro dessa turma animada e unida que amava sua cidade natal, se foi recentemente.

A ele, como remanescente que sou dessa turma de amigos, plantadora de projetos, dedico um dos pindós que lá estão.

Yara Penteado - Antropóloga

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