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Fato ou ficção: animais de estimação protegem as crianças contra alergias?

Animais de estimação podem ser tudo para uma criança: eles mostram o que é amor incondicional, ensinam sobre a responsabilidade e a morte. Mas um cachorro ou um gato também podem evitar que a criança desenvolva alergias? Apesar de décadas de pesquisas, a resposta mais direta ainda é um frustrante "talvez".


A idéia que animais de estimação fornecem um benefício imune vem de uma teoria controversa de 1989, a "hipótese da higiene", que afirma que o grande aumento de doenças alérgicas no século 20 pode ser explicado, pelo menos em parte, por nossos altos padrões de limpeza. Microorganismos como bactérias e parasitas fortaleceriam nosso sistema imune para as grandes "batalhas" - as infecções perigosas -, sendo espertos o bastante para ignorar as mais frívolas. Assim, as alergias ocorreriam porque sistemas imunes "inocentes" atacam desnecessariamente fatores ambientais inofensivos, como pêlos de animais. Hoje, a maioria dos pesquisadores acredita que apenas certos microorganismos, como vermes parasitas e lactobacilos, realmente ajudam a preparar o sistema imune.


Estudos dedicados a essa questão, no entanto, não são nada conclusivos. "Seja bem vindo a um território complexo", diz Thomas Platts-Mills, diretor da divisão de alergia e imunologia clínica da University of Virginia. Alérgenos de cachorros e gatos, como pêlos e saliva, se espalham rapidamente nas roupas e pelo ar, e a maioria das crianças está exposta a eles - portanto, não se trata de uma questão absoluta de exposição versus não-exposição. "A questão é: o que acontece com uma exposição maior, ou seja, quando há um gato na casa?", diz Matthew Perzanowski, cientista de saúde ambiental da Mailman School of Public Health, da Columbia University.


De acordo com Perzanowski, o fato de ter um pet em casa parece estar associado a um risco menor de desenvolver alergias. Por exemplo, em países com muitos gatos, como os Estados Unidos (especialmente nos subúrbios), e a Austrália, o bichano parece fornecer um efeito protetor. Mas em países com poucos gatos, ele afirma, ter um pet na verdade aumenta o risco de sensibilidade alérgica, a reação imune que muitas vezes precede os sintomas da alergia. E nem tente entender os países com mais ou menos gatos - os estudos ainda são inconclusivos. E porque essas diferenças existem, também ninguém sabe.


Há evidências ainda mais fortes para a proteção vinda dos cachorros, afirma Augusto Litonjua, médico associado no Brigham\'s and Women\'s Hospital, em Boston. No entanto, ele admite que poderia haver uma série de razões para isso. Por exemplo, como distinguir o efeito direto de se ter um cachorro e as escolhas decorrentes no estilo de vida, como ficar mais ao ar livre, ser mais ativo fisicamente, e tomar mais Sol - absorvendo mais vitamina D? Pode não ser o efeito do cachorro em si, ele diz.


No entanto, há evidências moleculares de uma proteção específica dos cães. Sabe-se que esses animais carregam muitos compostos bacterianos, chamados endotoxinas, em seu pêlo, explica Litonjua. Seus estudos demonstram que, quando as células de crianças que cresceram em casas com níveis mais altos de endotoxinas são expostas diretamente a alérgenos em laboratório, liberam menos citocinas, químicos associados a reações alérgicas.


A exposição às endotoxinas poderia explicar também o fato de crianças que crescem em fazendas apresentarem menos sintomas alérgicos que outras. As fazendas são repletas de microorganismos e animais, e esses poderiam ter um efeito protetor. No entanto, as crianças criadas num ambiente assim levam uma vida muito diferente das outras, então é difícil apontar exatamente aquilo que as protege, explica Litonjua.


Na verdade, alguns cientistas pedem cautela na interpretação da maioria dos estudos de alergias relacionadas a animais de estimação. Em muitos deles, os pesquisadores questionaram grupos de pessoas sobre a presença de pets em casa, e compararam esses padrões com seus perfis alérgicos.


"Estudos como esses não determinam a causa", explica Carl-Gustaf Bornehag, cientista de saúde pública da Universidade Karlstad, na Suécia. "Muitas vezes, pessoas alérgicas a animais de estimação - ou, como as alergias são parcialmente hereditárias, pessoas que correm o risco de desenvolver essas complicações porque alguém na família é alérgico - simplesmente não têm animais em casa."


Esses fatos distorcem os resultados dos estudos, fazendo parecer que os animais de estimação protegem contra alergias quando, na verdade, não o fazem. Apesar de algumas pesquisas já terem tentado contornar essa predisposição ao estratificar resultados baseados em risco hereditário, "até que haja um julgamento randômico da distribuição de gatos", diz Perzanowski, "sempre haverá a possibilidade de se confundir com a escolha de alguém de ter um gato ou cachorro em casa."


Então, os pais deveriam ter um bichinho em casa para minimizar o risco de seus filhos desenvolverem alergias? "Essa é a grande questão", diz Litonjua, e a resposta mais simples, ele afirma, é "não". "Se você quiser ter um animal de estimação para tentar prevenir alergias, provavelmente não é uma boa razão", ele explica, mas "se seus filhos realmente querem o bichinho - e você também -, vá em frente, contanto que nenhum membro da família apresente qualquer sintoma quando exposto aos animais." É claro que picadas de pulga e aversão a limpar a casa não contam.

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