Um laboratório público brasileiro será o único no mundo a produzir o medicamento usado no tratamento da doença de Chagas, controlada no país, mas cujo registro de surtos por transmissão oral preocupa especialistas.
O Laboratório Farmacêutico de Pernambuco (Lafepe) inicia em outubro a produção do medicamento Benzonidazol -- os direitos e tecnologia para fabricação foram cedidos pelo laboratório Roche ao governo brasileiro.
De acordo com o presidente do Lafepe, Luciano Vasquez, o laboratório já adquiriu um lote de matéria-prima, importada da Roche na Suíça, capaz de produzir aproximadamente 3,5 milhões de comprimidos do medicamento. O tratamento dura cerca de quatro meses, com o uso de um comprimido por dia. Cada caixa do remédio terá 100 comprimidos, segundo Vasquez.
"A Roche tinha a patente, mas por ser um medicamento de baixa rentabilidade não se tem interesse em produzir", afirmou à Reuters o presidente do Lafepe. "Mas é fundamental que se mantenha a produção. É estratégico para o país. Em termos logísticos, teremos um medicamento produzido em território nacional e, em termos de segurança, também é estratégico, porque em caso de necessidade é produzido e entregue imediatamente", acrescentou.
Vasquez disse que ainda não há estimativa de custo final do produto, mas os gastos com esse lote de matéria-prima chegaram a 350 mil reais.
A doença de Chagas, que apresenta como sintomas iniciais febre e mal-estar, é causada pelo protozoário parasita Trypanosoma cruzi, transmitido pelas fezes do mosquito conhecido como barbeiro. Normalmente, a vítima coça a região picada pelo mosquito, e o parasita entra pelo orifício da picada e atinge a corrente sanguínea.
A doença que era endêmica no país, com milhões de casos ao ano, teve a transmissão controlada por meio da picada do barbeiro, segundo o Ministério da Saúde. "Hoje temos taxas baixas de transmissão vetorial (pela picada do inseto). No entanto, verificamos casos de transmissão via oral que preocupam", afirmou o coordenador da vigilância de doenças transmissíveis do Ministério da Saúde, Ricardo Pio Marins.
No país foram registrados alguns surtos por transmissão oral via alimentos, como os ocorridos em Santa Catarina pela ingestão de caldo de cana e pelo consumo de açaí, especialmente na Região Norte. Segundo Marins, esse tipo de transmissão, que até 2004 era pouco conhecido, agora está sendo investigado por especialistas de diferentes áreas no país.
O tratamento existente contra a doença de Chagas pode curar apenas na fase inicial, por isso é importante o diagnóstico precoce. Não existe uma vacina contra a doença.
O envio do medicamento ao exterior, segundo o presidente do Lafepe, será feito com apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras.
A doença ocorre principalmente na América Latina onde, na década de 1980, estimava-se que mais de 20 milhões de pessoas estavam infectadas, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Atualmente, estima-se esse número em aproximadamente 8 milhões.
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