Imagine tratar um canal sem sentir dor e sem sair do consultório do dentista com o rosto paralisado. Esse é o objetivo de uma pesquisa publicada hoje na revista britânica Nature (www.nature.com), que usa a molécula responsável pelo ardor das pimentas, a capsaicina, para atingir o objetivo. Três cientistas ligados à Faculdade de Medicina da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, conseguiram criar um anestésico que age somente nos nervos que mandam o sinal de dor ao cérebro, sem afetar as células motoras vizinhas.
Isso porque normalmente os anestésicos atingem todas as células nervosas de determinada região do corpo, sem distinguir quem é quem. O resultado é que, além de a dor ir embora por um tempo, também somem a sensibilidade ao tato e o controle de movimentos. Essa tem sido a regra desde que a anestesia geral foi aplicada pela primeira vez em cirurgia, em 1846.
Para fugir disso, o trio trabalhou especificamente com os nervos sensÃveis à dor. Desde a década de 1970 sabe-se que esses neurônios especÃficos possuem poros nas membranas. Eles funcionam como canais que abrem e fecham para permitir a passagem de determinadas moléculas. Tal caracterÃstica é exclusiva - esses poros ou canais não existem nos outros neurônios, como os motores.
A experiência foi feita em ratos. Eles primeiro receberam uma aplicação das duas moléculas nas patas e andaram normalmente em uma placa quente, sem apresentar muita sensibilidade ao calor excessivo.
Num segundo momento, os cientistas aplicaram a combinação quÃmica no nervo ciático dos animais e espetaram suas patas, sem que qualquer reação fosse esboçada. Ao mesmo tempo, os roedores continuaram a se mover tranqüilamente, sem mostrar nenhum comprometimento motor. O grupo está confiante de que a estratégia pode ser transferida para tratar pessoas com o avanço do estudos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.