Não, não são os desenhos animados que fazem as crianças serem agressivas com os coleguinhas, ou agarrar com violência os brinquedos dos outros, De acordo com uma nova pesquisa, o que falta na verdade é habilidade social.
"Trata-se de um comportamento natural, e é surpreendente que a idéia de que crianças e os adolescentes aprendem a se tornar agressivos com a mÃdia ainda seja relevante" diz Richard Tremblay, professor de pediatria, psiquiatria e psicologia da University of Montreal, que passou mais de duas décadas analisando 35 mil crianças canadenses (desde os cinco meses até os 20 anos de idade), em busca das raÃzes da agressão fÃsica. "O jovem é claramente agressivo antes de ter contato com a televisão" afirma Tremblay.
Os resultados preliminares de Tremblay apontam que, em média, as crianças atingem o pico do comportamento violento (mordendo, arranhando, gritando, batendo) no 18º mês de vida. O nÃvel de agressão começa a declinar entre os dois e cinco anos de idade, assim que eles começam a aprender outros meios mais sofisticados de comunicar seus desejos e vontades.
"Estamos tentando descobrir até que ponto os indivÃduos com agressividade crônica mostram diferenças em termos de expressão genética, comparados à queles com uma trajetória normal", explicou Tremblay. "As pessoas cronicamente agressivas possuem mais genes não expressados". O fato é que um gene pode ser silenciado, ou o nÃvel de proteÃna codificada por ele pode ser reduzido. "Isso indica que o problema está localizado em um nÃvel muito básico", completa.
Quando uma criança começa a cutucar, beliscar ou mesmo dar uns tapas, os pais, professores e irmãos geralmente reagem à agressão mostrando que esse comportamento não é apropriado. Mas, ao citar alguns estudos realizados com animais, Tremblay ressalta que um ambiente inadequado desde a fase uterina pode afetar a habilidade da criança para aprender essa lição. Ele planeja incluir mulheres grávidas em seu estudo genético para determinar se o seu comportamento durante a gravidez está ligado à baixa regulagem dos genes que podem estar associados à agressão crônica.
"Nessa pesquisa extensa, medimos várias caracterÃsticas durante a gestação e após o nascimento que podem ser bons indicadores para prognosticar a agressão crônica nas crianças", aponta Tremblay. Segundo ele, alguns dos fatores que possivelmente influenciam o desenvolvimento neurobiológico do feto incluem o tabagismo e o alcoolismo, a má alimentação e o estresse excessivo.
Tremblay especula que os genes possuam um papel significativo. Por exemplo, genes danificados podem dificultar o domÃnio da linguagem nas crianças, gerando uma frustração que tende a criar uma situação em que elas se fazem ouvir por meio da violência. "Quando você não domina a linguagem" Tremblay explica, "é difÃcil fazer com que as pessoas entendam o que você quer".
Kate Keenan, professora Associada de psiquiatria da University of Chicago, acha que uma nova análise genética deveria ser o próximo passo lógico no estudo de Tremblay sobre a agressão na infância. Ela acredita que o trabalho pode ajudar a descobrir perfis genéticos especÃficos de crianças cronicamente agressivas, o que permitirá aos pesquisadores responder questões a como "Com que antecedência é possÃvel distinguir uma criança com essa caracterÃstica e quando devemos interceder?".