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Política

Lula considera 'burra' fala de Caetano que o chamou de analfabeto

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu ontem ao fato de ter sido chamado de analfabeto pelo cantor Caetano Veloso, em entrevista ao Estado concedida à jornalista Sonia Racy. Devolvendo também as criticas feitas em artigo publicado no Estado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ele afirmou que aqueles que o criticam não se conformam com o reconhecimento que seu governo conquistou.
"Eles têm que assistir a um operário - não tenho vergonha de dizer um operário - ganhar tudo o que eles imaginavam que pudessem ganhar", disse Lula, engatando uma resposta a Caetano. Disse que nesta semana foi "até chamado de analfabeto" e continuou: "É muito engraçado porque tem gente que acha que a inteligência está ligada à quantidade de anos de escolaridade que você tem. Não tem nada mais burro que isso".
Segundo o presidente, as pessoas que "dizem o que querem ouvem o que não querem". "A vida é assim, a vida é dura", disse Lula, que discursou depois da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, no congresso do PC do B, ontem, em São Paulo.


DIVISÃO
Atacado por líderes do PT por ter qualificado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como "analfabeto", o cantor Caetano Veloso recebeu, na classe artística, manifestações de solidariedade e de crítica.


"Por que nada de Lula pode ser criticado?", questionou Nelson Motta, produtor musical, escritor e colunista do Estado. "Achei realmente deselegante, para dizer o mínimo, o fato de o cantor ter chamado o presidente Lula de analfabeto, coisa que ele não é", afirmou o escritor Ricardo Lísias. "O leão está banguela, rugindo lugares comuns", opinou o ator Pascoal da Conceição. Para a documentarista e ensaísta Miriam Chnaiderman, não se deve interpretar as declarações como uma "análise política" sobre o Brasil. "Caetano, como sempre, não está minimamente preocupado em ser coerente. E é essa sua riqueza como criador maravilhoso que é."


Já o maestro Jamil Maluf não vê incoerência na manifestação. "Caetano conhece o peso das palavras como poucos. Se disse o que disse é por que realmente pensa o que pensa."


OPÇÃO
Caetano se referiu a Lula como "analfabeto" em entrevista à jornalista Sonia Racy, do Estado. Ele também anunciou sua opção pela candidatura de Marina Silva à Presidência, em 2010. "Não posso deixar de votar nela", disse o cantor. "Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é uma cabocla. É inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro." "É no mínimo estranho alguém que diz isso depois dizer que Lula é grosseiro. Ele (Caetano) é que foi grosseiro", disse Ricardo Lísias.


"Não vejo motivo para tanto estupor por dizer que Lula, apesar de fazer ótima administração, principalmente econômica, muitas vezes é grosseiro, arrogante, bravateiro e mal-educado em seus discursos. Não tira nenhum de seus méritos políticos e administrativas. É algo que o próprio Lula não deve ignorar nem negar. Não é crime nem pecado mortal, é só uma questão de estilo, afirmou Nelson Motta.


MARINA
Sobre a entrada de Marina Silva na corrida presidencial, Motta negou que pretenda votar nela, apesar de ter simpatia pela senadora acreana. "Concordo com Caetano quanto à educação, serenidade e elegância da Marina, mas ser Lula mais Obama... É uma certa empolgação do Caetano."


"A defesa que Caetano faz da candidatura de Marina Silva reflete um desejo messiânico", disse Ivam Cabral, ator e diretor teatral. "O Brasil não precisa de outros profetas. Caetano ignora aspectos importantes da personalidade dela. Sua religiosidade fervorosa e radical pode trazer atrasos significativos em relação a temas como engenharia genética, pesquisa de embriões, direitos de homossexuais, etc."


Além de sair em defesa de Lula, Ricardo Lísias criticou seu antecessor na Presidência, Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). "Não concordo que ter FHC e depois Lula é algo bom. Eu acho FHC uma figura ornamental, um sujeito que se orgulha de falar inglês e francês, de ter doutorado, de ser professor da USP e que simplesmente fez um governo que só favoreceu a classe economicamente dominante. Tenho extrema antipatia por essa oligarquia de doutorado, que acha que sabe falar, o pessoal fino de Higienópolis."

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