Certa tarde, no começo de setembro, um arquiteto tomou o trem para o trabalho e decidiu se transformar em fiscal do uso de celulares. Ele estava sentado ao lado de uma moça de 20 e poucos anos que, segundo ele, estava "tagarelando sem parar" ao celular. "Ela usava a palavra 'tipo' o tempo todo. Parecia uma dessas garotas do subúrbio", disse o arquiteto, Andrew, que preferiu não revelar seu sobrenome porque o que ele fez a seguir é ilegal. Andrew colocou a mão no bolso de sua camisa e apertou um botão em um aparelho preto do tamanho de um maço de cigarros. O dispositivo emite um forte sinal de rádio, e isso bastou para derrubar a ligação da tagarela - e as de quaisquer outras pessoas em um raio de 10 metros.
"Ela continuou falando ao telefone por uns 30 segundos antes de compreender que não havia ninguém do outro lado", ele afirmou. A reação de Andrew ao descobrir que ele poderia exercer tamanho poder? "Meu Deus, foi de completo alÃvio".
Com a disparada no uso de celulares se tornou difÃcil não ouvir meias conversas em muitos lugares públicos, mas um pequeno bando de rebeldes está recorrendo a uma contramedida rÃspida: o bloqueador de celulares, aparelho que reduz ao silêncio os dispositivos móveis de comunicação localizados nas imediações.
Procura cresce
A tecnologia não é nova, mas os exportadores estrangeiros de bloqueadores dizem que a demanda está em alta, e que estão despachando centenas de unidades ao mês para os Estados Unidos - o que atraiu a atenção das autoridades norte-americanas e gerou preocupação no setor de telefonia móvel, esta semana. Os compradores incluem proprietários de cafés e salões de beleza, hotéis, pessoas que fazem palestras, operadores de salas de cinema, motoristas de ônibus e, cada vez mais, pessoas que viajam como passageiros em transportes coletivos.
O novo desdobramento está gerando uma nova batalha pelo controle das ondas de comunicação nos espaços imediatos dos usuários. E há danos colaterais: os tagarelas insensÃveis impõem seu ruÃdo aos indefesos, e os donos de bloqueadores punem não só os culpados mas as pessoas que usam seus celulares discretamente.
"Se alguma coisa caracteriza o século 21, é nossa incapacidade de nos contermos em nome de não perturbarmos os demais", disse James Katz, diretor do Centro de Estudos de Comunicação Móvel da Universidade Rutgers. "A pessoa que fala ao celular acredita que seus direitos superam os das pessoas que a cercam, e aqueles que usam bloqueadores consideram que os seus direitos é que são mais importantes".