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Comitivas Pantaneiras são tema de palestra no FestinBonito

"Comitivas pantaneiras: imaginário, mitos e realidade" foi tema de palestra ontem (3/7) no 8° Festival de Inverno de Bonito. A palestra abordou desde a estrutura e história das comitivas, que surgiram há 200 anos com o desenvolvimento da pecuária, até propostas para a valorização das comitivas pantaneiras.


O palestrante Eron Brum é doutor em ciências sociais pela Universidade de São Paulo e coordenador do mestrado em Meio Ambiente e Ecologia da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da região do Pantanal (Uniderp). "Sempre estive envolvido com comunicação, política e meio ambiente", conta Eron, que é nascido em Dourados. Seu interesse pelas comitivas surgiu quando voltou para Mato Grosso do Sul em 1990 e notou como a percepção do tempo e do ritmo de quem trabalha na comitiva é diferente de uma pessoa da cidade. "Há muitas pesquisas sobre a fauna e a flora do Pantanal, mas poucas sobre o homem pantaneiro", acredita Brum.


Um dos focos centrais da exposição foi o imaginário popular sobre a comitiva pantaneira e o choque com a realidade do peão. Para Brum, a atividade é romantizada e mitificada na literatura e na música, e muitas vezes os aspectos mais duros do trabalho são esquecidos. Os peões trabalham sem registro em carteira, não têm tempo para lazer e família, não têm opção profissional, não ganham muito dinheiro.


"Geralmente se ganha por dia. O ganho varia muito, até porque as funções (culateiro, meeiro, fiador, ponteiro, cozinheiro) podem ter diferentes remunerações, mas na média não se ganha muito mais que um salário mínimo", contou Brum. Outro ponto delicado é a saúde do peão, que trabalha no sol, na chuva, o dia todo no lombo do cavalo, dormindo ao relento. "Eles chegam a ficar um mês debaixo da água, quando é época de cheia no Pantanal", disse o palestrante sobre o depoimento de um dos peões.


Apesar de toda a exposição de Brum sobre a dificuldade da vida na comitiva, o pesquisador acredita que a atividade não acaba. "Há vários fatores. O Pantanal é muitas vezes inacessível por outros meios, por causa das cheias; o mercado é exigente e espera produtos diferenciados; o preço de outras maneiras de conduzir o gado, como as gaiolas boiadeiras, é caro", listou Brum.


Para fortalecer a atividade, o professor apresentou, no final da exposição, algumas propostas. Segundo ele, os peões deveriam criar uma associação de classe, especializarem-se e difersificar sua atividade, para fortalecer seu papel na cadeira produtiva do Pantanal. "O peão é um profissional especializado: ele conhece a lida, sabe fazer leituras meteorológicas apuradas, interpretar a natureza, a aproximação de bichos (abelhas, onças, tudo que seja perigoso para o estouro da boiada)", comentou. Para ajudar nesta valorização, o professor mencionou o projeto Casa do Pantanal/MS. O espaço, no Parque das Nações Indígenas, quer ajudar a manter e registrar a história das comitivas e sua sabedoria popular (através de conversas com os peões, por exemplo), oferecer cursos de especialização para quem trabalha nas comitivas e favorecer a geração de renda - uma das idéias é manter um restaurante em que os cozinheiros das comitivas apresentariam sua comida e seu modo de preparação do alimento.

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